Filmes de baixo orçamento seguem sendo subestimados por parte da crítica e do público, como se a ausência de cifras milionárias automaticamente definisse o valor de uma obra. Mas Meteoro: O Fim dos Tempos, produção distribuída pela plataforma Looke (com canal também disponível na Amazon Prime Video) surge como um lembrete poderoso de que a criatividade, quando bem conduzida, pode fazer muito mais barulho do que o som de caixas registradoras.
A trama acompanha um soldado da Força Espacial dos EUA em uma missão de alto risco: pousar em um meteoro em rota de colisão com a Terra, acompanhado de uma equipe reduzida de especialistas. É o tipo de enredo que ecoa ecos de clássicos como Armageddon (1998) e Impacto Profundo (1998), mas que escolhe trilhar um caminho mais contido, mais visceral e, por vezes, mais ousado.
Não há aqui promessas de uma experiência visual como Interestelar (2014) ou a grandiosidade plástica de Star Wars. E nem deveria haver. Meteoro: O Fim dos Tempos é fruto de um orçamento enxuto, mas com soluções criativas e ambições narrativas que merecem respeito. O roteiro é fechado e bem estruturado, com reviravoltas corajosas que dificilmente encontrariam espaço em roteiros convencionais de estúdios hollywoodianos. Há ali um desejo autêntico de arriscar, de romper com fórmulas prontas.
A direção, embora com alguns tropeços, especialmente nas sequências ambientadas na superfície do meteoro, dá conta do recado. A proposta é clara e bem conduzida, mesmo quando a execução não é perfeita. A fotografia, por sua vez, aposta no simples com sabedoria, evitando exageros e concentrando-se em soluções visuais que funcionam dentro de suas limitações. Em vez de tentar impressionar com grandiosidade artificial, a imagem se mantém funcional e coerente com a proposta.
Os efeitos visuais, previsivelmente, são o ponto mais frágil da obra. O CGI entrega o jogo em alguns momentos, deixando claro que estamos diante de uma produção modesta. Mas, diferentemente do que se poderia imaginar, isso não compromete a experiência. Afinal, a tensão, a urgência e o drama dos personagens se sustentam na narrativa, não nos efeitos visuais. O mesmo, no entanto, não pode ser dito do figurino: especialmente os trajes espaciais (com capacetes que lembram equipamentos de moto) destoam do restante da produção e quebram a imersão em momentos cruciais. Um deslize que, embora compreensível, causa certo ruído visual.
Apesar disso, as cenas no meteoro funcionam muito bem e remetem àquela mesma sensação de inquietação e iminência do colapso que tornou Interestelar tão poderoso. A contagem regressiva para o fim do mundo não é apenas um elemento do roteiro, mas um pulso constante no ritmo do filme.
O final surpreende, e não por tentar um choque barato, mas por apostar em um desfecho que foge do previsível e fecha bem a proposta apresentada. O saldo é positivo, e a existência de filmes como esse deveria servir de alerta: não se vive só de blockbusters. Há muito valor no cinema que nasce fora do circuito tradicional, nas obras que não se vendem como épicas, mas entregam conteúdo com integridade.
O Fim dos Tempos é, sim, uma ficção corajosa. E é nesse tipo de ousadia, silenciosa, honesta, muitas vezes ignorada, que se encontram os futuros criadores, os roteiristas inquietos, os cineastas que ainda acreditam que contar uma boa história vale mais do que explodir metade da galáxia em 3D.
O mundo do cinema já está cheio demais de especialistas que só aplaudem quando o logotipo da Marvel aparece na tela. Talvez esteja na hora de olhar um pouco mais para os lados e para baixo, onde o orçamento é menor, mas a ambição é imensa.
‘Meteoro: O Fim dos tempos’ está disponível no Looke.
Assista ao Trailer:
Foto de capa: Looke
