Looney Tunes: O Dia que a Terra explodiu é o retorno do nonsense como arte e memória

É difícil conceber uma infância que não tenha sido, em algum momento, atravessada pelo humor anárquico de Patolino, Gaguinho e Pernalonga. Ícones da cultura popular, suas presenças foram, por décadas, garantia de um riso espontâneo e uma leve subversão das regras que regem a ordem adulta. No entanto, já se fazia longa a espera por uma nova narrativa desses personagens no universo cinematográfico. Looney Tunes: O Dia que a Terra Explodiu, que estreia nesta quinta-feira, 24 de março, marca o retorno desses velhos conhecidos sob a batuta da Warner Bros., em uma animação que prefere celebrar o passado a ceder às pressões da inovação desenfreada.

A trama, de simplicidade engenhosa, acompanha Patolino e Gaguinho — aqui, apresentados como irmãos-amigos criados por um fazendeiro cuja ausência repentina lhes lega uma casa. Este é o ponto de partida para uma série de peripécias que orbitam o esforço da dupla em manter o lar, enfrentando a exigência de uma vistoria que, previsivelmente, está muito além de suas capacidades desastrosas. Sem recursos financeiros e pressionados pelo tempo, os personagens mergulham em uma busca atrapalhada por emprego, que os leva ao encontro da cientista Petúnia — figura nova no panteão dos Looney Tunes e catalisadora de uma nova camada emocional, especialmente para o sempre ingênuo Gaguinho.

O enredo adquire contornos mais extravagantes quando o trio, agora estabelecido em uma fábrica de chicletes, descobre um plano alienígena para dominar a humanidade através do controle mental. Trata-se de uma narrativa que não se propõe a subverter expectativas ou reinventar a roda; ao contrário, aposta em uma fórmula clássica, resgatando os elementos que sempre garantiram o sucesso desses personagens: o sarcasmo cortante de Patolino, a timidez cativante de Gaguinho e a introdução amorosa de Petúnia, que aporta ao filme uma ternura discreta, mas eficaz.

Longe de soar repetitivo, o longa-metragem reconfigura o clichê com inteligência, aplicando-o a um contexto contemporâneo. Problemas como a necessidade de sustentar uma propriedade, a pressão econômica e as frustrações do mercado de trabalho são temas insólitos dentro do gênero da animação infantil, mas aqui se mesclam harmoniosamente à fantasia característica do universo Looney Tunes. A ameaça alienígena, embora absurda, é menos importante em si do que o pano de fundo que oferece para a construção de situações cômicas e absurdas — marca registrada dos personagens.

O roteiro, ainda que previsível em sua estrutura, é eficiente em seu ritmo e fluidez. Não há rupturas ou momentos de dispersão; o filme mantém uma narrativa coesa, amparada por um humor que, embora atualize suas referências para dialogar com as crianças de hoje — mais familiarizadas com figuras como Peppa Pig do que com os cartuns do século passado —, preserva a irreverência que caracteriza seus protagonistas.

É justamente nesse equilíbrio que reside a força de Looney Tunes: O Dia que a Terra Explodiu. A obra se oferece como uma ponte entre gerações, permitindo aos adultos revisitarem as memórias afetivas de sua infância enquanto apresenta às novas plateias personagens que, apesar do tempo, mantêm sua vitalidade e seu poder de encantamento. Não há aqui a ânsia de “reinventar” a essência dos Looney Tunes; há, antes, o respeito pelo aquilo que eles representam: uma celebração do absurdo, da amizade e da eterna luta contra as circunstâncias — sempre vencida, ainda que aos trancos e barrancos, com riso e imaginação.

Assim, o longa se configura como um retorno bem-sucedido, uma obra que, se não aspira à grandiosidade, tampouco se deixa abater pelas limitações de seu próprio projeto. Em tempos em que o cinema de animação muitas vezes se rende ao excesso de camadas e ambições, Looney Tunes: O Dia que a Terra Explodiu lembra que, por vezes, o mais simples — quando feito com inteligência e carinho — é também o mais memorável.

O longa chega aos cinemas na quinta-feira, 24. Assista ao trailer:

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