A Apple TV+ tem feito movimentos certeiros para conquistar espaço no mercado brasileiro, e Ladrões de Drogas é mais uma prova desse avanço estratégico. Com Wagner Moura em um papel que transita entre coadjuvante e essencial, a série aposta em um enredo que mistura amizade, criminalidade e traumas não resolvidos, tudo isso embalado por uma narrativa que respeita a inteligência do público.
A trama gira em torno de Ray e Many (Wagner Moura), amigos de longa data que cresceram entre as sombras do subúrbio da Filadélfia, cercados pela violência e pelo tráfico. Em um plano tão absurdo quanto engenhoso, eles se passam por agentes federais para invadir pontos de venda de drogas e roubar dinheiro e mercadorias. Mas o que começa como uma sequência de golpes bem-sucedidos logo toma rumos perigosos quando um novo comparsa entra na jogada e eles acabam cruzando o caminho de um dos cartéis mais temidos da região.
Perseguidos por chefões do crime, os protagonistas são forçados a confrontar não apenas inimigos externos, mas também as cicatrizes que carregam do passado. Sim, o enredo tem elementos já conhecidos de outras produções como tráfico, fuga e dilemas morais, mas a forma como tudo é executado faz diferença. O roteiro assinado por Peter Craig aposta em arcos narrativos sólidos dentro de cada episódio, fugindo daquela velha armadilha do “encher linguiça” para só entregar reviravoltas no final da temporada. Aqui, o conflito se constrói com ritmo e propósito.
A série não reinventa a roda, e nem precisa. O que poderia soar como mais do mesmo é elevado por um conjunto bem orquestrado: direção segura, elenco afinado e um cuidado visual impressionante. A máxima do arroz com feijão bem feito se aplica com força. É uma produção que sabe onde pisa e faz escolhas conscientes, sem pretensões mirabolantes.
A ambientação é outro ponto alto. A estética escolhida transita com naturalidade entre o universo latino-americano e o cenário urbano norte-americano, evocando atmosferas já exploradas por outras obras, mas com uma identidade própria. A fotografia, digna da assinatura Apple TV, mergulha no submundo da Filadélfia com intensidade. Cada cena é carregada de textura emocional, traduzindo o peso das decisões dos personagens em imagens que ficam na memória.
Wagner Moura entrega, mais uma vez, um trabalho de peso. Sua presença em cena é magnética, e embora esteja creditado como coadjuvante, há momentos em que seu Many rouba a centralidade da trama. A dinâmica com Ray sustenta boa parte da força dramática da série, e a química entre os atores é visível.
O único tropeço fica por conta do desfecho da temporada. A tentativa de forçar um gancho para uma possível continuação soa desnecessária e enfraquece o encerramento. O problema não é exclusivo desta série, trata-se de um vício recorrente nas produções de streaming, que insistem em prolongar histórias que já tinham encontrado seu ponto de respiro.
Ainda assim, Ladrões de Drogas é um acerto expressivo no catálogo da Apple TV+. Para quem busca uma série de ação com densidade emocional, ambientada entre tiros, dilemas e passados mal resolvidos, essa é uma escolha certeira. Não é apenas entretenimento; é também um espelho de realidades que, embora distantes para alguns, continuam se repetindo à margem da sociedade. Uma obra que merece ser vista e pensada.
Assista ao trailer:
Foto de capa: Reprodução Apple TV