“Kraken” e a forma exuberante de trazer um debate em silencio

O capitalismo em sua forma mais perversa e avassaladora é o que faz Kraken ser incrivel. A partir dos corpos rigidios construídos pelo sistema opressor, vemos a transformação daquilo que antes não parecia ser possivel.

Kraken, espetáculo da Cia Kà estreiou hoje (29/03) no Mini Auditório do Teatro Guaíra com casa cheia e forte presença cênica. Foi através dessa narrativa inebriante de corpos moldados como bonecos de uma animação stop motion, que o diretor Caio Frankiu se debruça em sua pesquisa exímia.

Cada corpo em cena é tão forte que não esquecemos nem um minuto da prisão em que ele está. A cada gesto, grito e insegurança, mesmo que no olhar, a narrativa vai sendo desenrolada desse emaranhado sentimental sem o uso de uma única palavra falada.

E não é pleonasmo, pois a dramaturgia cenica é muito presente no espetáculo, mesmo que a língua portuguesa não seja usada. Portanto, o trabalho de pesquisa corporal de Frankiu é notavelmente admirável. Destaca-se ainda há sua própria performance, já que o próprio diretor encontra-se em cena o tempo todo.

A trilha sonora pulsa nos corpos do palco, mas atinge em cheio a plateia que inocentemente foi apenas ver mais um espetáculo e sai transformada. O figurino se sobressai em muitos momentos, mesmo quando ele não passa de pequenos pedaços de pano beje. A alternancia entre o preto e o colorido neon é uma marca a ser consolidada no espetáculo.

Já o cenário simples de um andaime e poderoso ao mesmo tempo, conversa com cada cena, independente de só existir no palco ou ser utilizado. A iluminação é um pico de emoções que traz ao publico o intimo dos personagens.

Enquanto cada objeto cênico traz uma forma diferente de ser, Frankiu transforma até o simples, como água em partitura cênica.

Por fim, Kraken possui a beleza estética que precisa para atingir o seu ápice consciente e trazer os debates. A Cia Kà se consagra na cena curitibana artística com uma linguagem cênica linda, excêntrica e grotesca que merece palcos como Guairinha e Guairão.

Espero conseguir ter a honra de assistir mais espetáculos como esse, principalmente se vierem da Kà e Frankiu.

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