Gladiador II: Um bom filme, mas não passa disso

Reprodução: Paramount

Lançado originalmente em 2000, Gladiador continua sendo até hoje um clássico do cinema e um dos mais icônicos épicos que a sétima arte já produziu. 24 anos depois, o diretor Ridley Scott retorna para dirigir a sequência. Admito que este não estava entre os lançamentos que mais aguardava no ano, mas a prévias e trailers pareciam bem empolgantes. Ao sair da sessão, cheguei a conclusão de que Gladiador II é um filme tecnicamente muito competente, mas que não justifica sua existência enquanto história.

Ambientado 16 anos após os eventos do filme original, em Gladiador II acompanhamos a história de Lucius (Paul Mescal), filho de Maximus e sobrinho de Commodus. O jovem rapaz se vê forçado a lutar no coliseu por sua vida e na esperança de restaurar a honra de Roma.

Um ponto que sempre foi destaque de Gladiador é seu design de produção e a forma como o filme recria a Roma Antiga através das vestimentas, cenários e adereços da época, e neste aspecto, Gladiador II não decepciona. Toda a parte da recriação histórica do coliseu, das armaduras e armas utilizadas em batalha, figurinos e ambientes é feita com muito esmero. O longa tem um orçamento estimado de US$310 milhões e fica visível em tela que foi feito um investimento pesado no design de produção, deixando a experiência muito mais autêntica e imersiva.

Já a trilha sonora, Hans Zimmer e Lisa Gerrard infelizmente não retornam para sequência, com o compositor Harry Gregson-Williams assumindo o posto. Como fã de seu trabalho na franquia de games Metal Gear Solid, fiquei intrigado quando vi seu nome nos créditos de abertura e Willians executou um bom trabalho. As novas faixas se encaixam bem com o tom da cena, seja nos momentos épicos de batalha ou em momentos mais calmos e emocionantes. Mas para fãs da belíssima trilha sonora do primeiro filme, saibam que certas faixas retornam em versões rearranjadas na sequência.

Se teve um aspecto que acabou datando do primeiro Gladiador são as cenas de luta, seja com algumas coreografias estranhas e principalmente pela forma questionável como Ridley Scott optou por gravá-las, com a câmera bastante tremida e uso de slow motion desnecessário, o que dificultava o entendimento das batalhas. Esse é um aspecto que melhorou consideravelmente no 2, com as coreografias mais bem elaboradas, apesar da câmera ainda atrapalhar em certos instantes a progressão da luta. Não tão frequente quanto o original, mas ainda acontece em certos instantes.

Reprodução: Paramount

Como mencionei anteriormente, Gladiador II é um filme tecnicamente muito competente, mas o que impede ele cruzar a barreira do “ótimo” ou “excelente” está justamente em sua história e personagens. Gladiador é uma história com personagens muito simples, talvez até simplórios para alguns. Mas as atuações de Russell Crowe e Joaquin Phoenix conseguem trazer muito carisma, imponência, emoção e elevam esses personagens que eram rasos até então. E este é um aspecto que sinto que Gladiador II não conseguiu atingir.

Veja bem, Paul Mescal é competente em seu trabalho como Lucius, que passou por uma impressionante transformação física para o papel, mas acaba sendo um protagonista bem padrão e que fica preso na sombra de Maximus. Pedro Pascal e Connie Nielsen como Acacius e Lucilla, respectivamente, também entregam atuações competentes, mas acabam não sendo tão explorados ou ganhando muito destaque. E não vou nem tentar comparar a dupla de imperadores vividos por Joseph Quinn e Fred Hechinger com o Imperador Commodus de Joaquin Phoenix, o que seria covardia da minha parte.

O único que realmente se destaca é Denzel Washington no papel de Macrinus, um comerciante de gladiadores que almeja ascender politicamente dentro de Roma. Denzel entrega um personagem carismático, ardiloso e manipulador, no qual nunca sabemos qual será seu próximo passo, fazendo ele ser de longe o personagem mais interessante do filme e quem rouba a cena.

Reprodução: Paramount

Ainda sobre o roteiro, uma ideia interessante que é apresentada mas que acaba sendo abandonada no decorrer da história, é uma dicotomia muito interessante em relação às guerras e expansões territoriais de Roma. Enquanto no primeiro filme vemos a perspectiva dos soldados de Roma, dos conquistadores, travando guerras contras os povos bárbaros, vemos aquilo como algo heroico e triunfante.

Já em Gladiador II podemos ver essas campanhas militares pela perspectiva dos conquistados, e como os romanos não são mais os heróis, e sim os vilões, já que para esses povos, são estrangeiros tomando a força sua terra e impondo sua cultura e modo de vida sobre outros povos. É uma pena que essa ideia seja apenas introduzida e insinuada algumas vezes, mas sinto que não foi devidamente explorada.

De forma geral, Gladiador II é um bom filme, não tem como negar isso. Com todo o trabalho de recriar Roma, as lutas no Coliseu e trilha sonora, mostra que a equipe de produção realmente se empenhou para entregar uma grande experiência visual nas telonas. Entretanto, o roteiro e atuações, que apesar de competentes como mencionei várias vezes durante a crítica, não chegam a serem marcantes, imponentes ou emocionantes, o que impede que o filme atinja esse patamar que ele poderia alcançar. Entretanto, ele acaba ficando só no “bom” mesmo e, assim como seu protagonista que vive às sombras de Maximus, Gladiador II também parece estar na sombra do original.

 

⭐⭐⭐

Assista ao trailer:

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