Na maioria das vezes, prequels (obras que se passam antes da história original) são vistos com olhos negativos por parte do público. Com a quantidade de filmes do tipo sendo produzidos única e exclusivamente para ganhar dinheiro em cima de uma franquia pré-estabelecida, ao invés de contar uma história realmente interessante e que agregasse em uma narrativa maior, é difícil não ficar com um pé atrás quando se ouve em prequels.
Existem exceções, é claro, como é o caso de Better Call Saul e X-Men: Primeira Classe, ambas produções com ótimas histórias e construções de personagens que muitas vezes recontextualizam passagens das obras originais. É por isso que existia muita dúvida quanto a nova entrada da saga Mad Max, mas Furiosa: Uma Saga Mad Max definitivamente se encaixa no segundo campo.
Ambientado décadas antes dos eventos de Mad Max: Estrada da Fúria (2015), no filme acompanhamos a história da jovem Furiosa (Alyla Browne/Anya Taylor-Joy) sendo sequestrada de sua comunidade por uma gangue de motoqueiros liderados por Dementus (Chris Hemsworth). Com uma guerra por recursos se iniciando entre Dementus e Immortan Joe, Furiosa deve-se tornar uma verdadeira guerreira se quiser sobreviver aos perigos do deserto e buscar vingança.
De todos os aspectos que tornam a franquia Mad Max tão marcante, a sua criação de mundo é de longe o que mais chama a atenção, construindo um mundo pós-apocalíptico obcecado com gasolina e carros V8. Em Estrada da Fúria fomos apresentados ainda mais camadas, conhecendo o império de Immortan Joe, suas esposas, os Garotos de Guerra, a beligerante religião do V8 e as diferentes cidades que compõem a geopolítica deste mundo. Furiosa continua com esta tradição, explorando mais das localidades apresentadas no longa anterior, como Vila Gasolina, a Fazenda de Bala, o Lugar Verde e a gangue de motoqueiros.
Outra pequena adição, a qual me deixou particularmente feliz, foi a aparição de Scabrous Scrotus (Josh Helman), um dos filhos de Immortan e personagem que serve de antagonista principal do game Mad Max (2015), confirmando de certa maneira os eventos do game como canônicos na cronologia da franquia. Game que por sinal é muito bom e vale a pena conferir se você é fã dos filmes.
Já nas atuações, Anya Taylor-Joy manda bem ao interpretar a protagonista, realmente transmitindo pela personalidade e maneirismos, a sensação que estamos vendo de fato a versão mais jovem da personagem vivida originalmente por Charlize Theron. Porém os grandes destaques para mim ficam por conta da atriz mirim Alyla Browne, intérprete da Furiosa criança e que manda super bem em seu papel. Fico curioso para ver seu trabalho em futuras produções, especialmente como Maria Robotnik em Sonic 3 (2024).
Já Chris Hemsworth rouba a cena como o antagonista do filme. Hemsworth é um ator que gosto mais por seu carisma do que por sua atuação. O considero um ator médio, em termos de performance e entrega, no geral. Entretanto, realmente fiquei impressionado com seu papel de Dementus, um vilão astuto, sádico e manipulador. É o tipo de papel que jamais imaginaria para o ator, contrariando minhas expectativas e ficando ótimo como o personagem, ao ponto de me deixar com vontade de vê-lo em outros papéis de antagonista no futuro.
Já a ação, outro ponto crucial da franquia, está presente em Furiosa, mas com um porém. Estrada da Fúria elevou a um patamar único quando se trata de cenas de ação grandiosas, fotografia, uso de cores e mescla de efeitos práticos e digitais. O prequel possui boas passagens de ação sim, bem gravadas e montadas, mas sem o mesmo esmero e primor técnico presente no longa de 2015. O uso de efeitos digitais também aumentou drasticamente, algo que fica evidente quando se compara com as cenas do longa anterior, onde a ação parecia muito mais palpável e realista, em que os efeitos digitais servem mais como complemento para o visual, do que um alicerce para a construção da cena.
Outro problema do filme é seu ritmo e duração. Se você está esperando o ritmo frenético de Estrada da Fúria, não irá encontrar neste filme, até por não ser sua proposta. Furiosa é uma história muito mais íntima e pessoal, focando na evolução da personagem ao longo dos anos, de uma garotinha para uma guerreira do deserto. Apesar da evolução da personagem ser interessante, é uma jornada um tanto cansativa. 2 horas e meia de filme foi desnecessariamente longo em minha opinião.
Quanto a demais aspectos técnicos, como trilha sonora, maquiagem, fotografia e figurino, todos seguem na linha já estabelecida por Estrada da Fúria, dando continuidade ao padrão de qualidade do longa anterior.
No geral, Furiosa: Uma Saga Mad Max é uma boa adição à franquia criada pelo diretor George Miller. Contando com boas atuações, uma trama e personagens interessantes e boas sequências de ação, o filme entretém e justifica sua existência ao contar a origem de uma das personagens mais intrigantes da saga. É importante salientar que esse filme não deve ser visto como um “Estrada da Fúria 2”, e sim como uma expansão do filme original, da mesma forma como a DLC de um videogame serve como expansão para aqueles que já aproveitaram a aventura principal. Visto sob este prisma, Furiosa cumpre de forma muito competente seu papel como expansão da história da personagem e do mundo de Mad Max.
⭐⭐⭐
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