Pensa num filme clichê. Um filme que explora um tema clichê de uma forma bastante clichê: enredo, direção, até a crítica social é clichê (para não dizer brega mesmo). Este filme não é Estranho Caminho (esperava outra coisa né? Eu sei, esse plot twist do meu texto foi inspirado no plot twist que o próprio filme entregou).
“Estranho Caminho” conta a história de David, um jovem diretor de cinema que mora em Portugal. De volta ao Brasil para acompanhar a exibição de seu primeiro filme, David busca também uma reconciliação com seu pai, com quem não fala há mais de dez anos.
O que poderia ser apenas mais um drama “freudiano”, que explora os conflitos entre pai e filho se mostra algo muito mais profundo, dado o contexto da história: surpreendido pelo início da Covid-19, David é obrigado a se hospedar na casa do pai, com quem o relacionamento é, de fato, muito difícil.
Neste universo, além dos atritos familiares, o diretor Guto Parente aborda temas como o choque entre gerações e os efeitos do lockdown – tanto na sociedade como na mente de cada um de nós – trazendo como pano de fundo nosso completo despreparo no enfrentamento da pandemia.
Uma das coisas que mais me incomodam nos filmes brasileiros é a atuação: alguns atores acham que estão no circo, fazem caras, bocas e gestos muito expansivos, como se fossem caricaturas ambulantes. Outros, que ganham a vida com telenovela, não passam de repetidores de texto que falam com a naturalidade de um GPS. Lucas Limeira (David) e Carlos Francisco (seu pai) fogem à regra e fazem um ótimo trabalho.
O roteiro demora um pouco para mostrar a que veio (ou fui eu quem demorou para entender o que estava acontecendo?) mas o terceiro ato é uma verdadeira obra-prima: coloca em xeque, entre outras coisas, a visão de David sobre seu pai e deixa o protagonista de cabeça para baixo.
Fotografia, direção de câmera e sonoplastia também são bastante competentes no seu papel de nos puxar para dentro da tela e, acima de tudo, respeitam a essência da contação de histórias no cinema: mais imagem, menos exposição (texto).
Vencedor de vários prêmios como Melhor Filme, Melhor Roteiro, Melhor Fotografia e Melhor Ator Coadjuvante, em festivais nos Estados Unidos, Brasil, Europa e América Latina, “Estranho Caminho” é um filme denso, profundo e tecnicamente muito bem feito. O plot twist é só a cereja do bolo (um clichê, eu sei, mas queria fechar com chave de ouro).
Confira o trailer:
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