Elio: Pixar removeu elementos LGBT antes do lançamento do filme

Um recente artigo do portal The Hollywood Reporter revelou novos detalhes sobre a conturbada produção de Elio, o mais novo longa-metragem da Pixar. A reportagem inclui entrevistas com funcionários do estúdio e aborda questões como a saída do diretor original, mudanças no elenco e a remoção de temáticas LGBT inicialmente presentes na trama da animação.

Originalmente, Elio seria dirigido por Adrian Molina, veterano da Pixar e co-diretor de Viva: A Vida é uma Festa (2017). Molina é um artista abertamente gay e, segundo fontes, o personagem-título teria nuances relacionadas à descoberta de sua sexualidade, inspiradas nas vivências pessoais do diretor. Vale destacar que o enredo não giraria em torno de uma narrativa clássica de “saída do armário”.

A primeira exibição-teste do longa ocorreu em junho de 2023. Apesar do retorno positivo sobre a qualidade do filme, quando o público foi questionado se teria interesse em assisti-lo nos cinemas, ninguém se manifestou. O silêncio inesperado levou Molina e Pete Docter, atual chefe da Pixar, a iniciarem conversas sobre o direcionamento criativo do projeto. Pouco tempo depois, Molina deixou a produção.

Com sua saída, as diretoras Madeline Sharafian e Domee Shi assumiram o projeto, que teve seu lançamento adiado de março de 2024 para junho de 2025. Nesse intervalo, várias mudanças no tom e na estrutura do roteiro original foram implementadas.

Outros artistas também deixaram a produção após a saída de Molina, como a atriz America Ferrera. Inicialmente escalada para o papel de Olga, mãe de Elio, Ferrera gravou diversas sessões de dublagem. No entanto, com as reescritas frequentes, a saída de Molina e a consequente redução da representatividade latina — uma pauta importante para a atriz, de ascendência hondurenha — Ferrera optou por se desligar do projeto. Ela foi substituída por Zoe Saldaña, que agora interpreta a personagem Olga, reformulada como tia do protagonista.

“Fico profundamente entristecida e incomodada com as mudanças feitas”, afirmou Sara Ligatich, ex-editora assistente e integrante do comitê LGBT da Pixar. “A saída de artistas talentosos após os cortes foi um grande indicativo do quanto muitos estavam insatisfeitos em ver aquele lindo trabalho ser alterado ou descartado.”

Outro ex-funcionário do estúdio, que preferiu manter o anonimato, endossou o relato: “Estava claro, durante a produção, que a primeira versão do filme contava com momentos que aludiam à sexualidade de Elio como gay.”

“Quando se remove esse componente essencial de identidade, Elio se torna um filme sobre nada”, acrescentou. “A versão que chegou aos cinemas é muito inferior à original de Adrian.”

Casos como o de Elio não são inéditos. Produções recentes da Pixar, como Divertida Mente 2 e a série animada Ganhar ou Perder (2025), também passaram por mudanças semelhantes. Em Divertida Mente 2, animadores relataram pressões para retratar a personagem Riley como “menos gay”. Já em Ganhar ou Perder, uma subtrama envolvendo uma personagem transexual teria sido completamente removida.

O Hollywood Reporter ainda destacou que, segundo as fontes ouvidas, as mudanças foram solicitadas por executivos da própria Pixar e não pela Disney, que é proprietária do estúdio.

“Muita gente gosta de culpar a Disney, mas a decisão foi interna”, afirmou o animador anônimo. Ele também mencionou o caso de Hoppers, projeto ainda em desenvolvimento, onde os animadores foram instruídos a suavizar as mensagens ecológicas e de preservação ambiental.

“Gostaria de perguntar ao Pete e aos demais executivos se todas essas reescritas realmente valeram a pena. Será que eles perderiam tanto dinheiro assim se tivessem deixado Adrian contar sua história?”

Atualmente em cartaz, Elio teve a pior estreia da história da Pixar, apesar de ter recebido avaliações positivas da crítica e do público.

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