Do Tinder ao Book Tok: Onde se encontra atualmente o romance?

Como disse muito bem o filósofo e sociólogo Zygmunt Bauman, vivemos uma modernidade líquida onde as relações interpessoais são rápidas e superficiais. As cartas se converteram em mensagens instantâneas, o flerte em curtida no story e os encontros românticos hoje são uma imensa discussão de quem paga o quê e quantos são necessários antes de se estabelecer um vínculo íntimo. Para os românticos incuráveis, como eu, o século XXI se torna cada vez mais difícil de navegar

Ainda assim, não se pode contestar que mesmo na era do amor líquido, a sociedade ainda nos pressiona a buscar “o amor verdadeiro”, que só seremos completos e felizes se estivermos num relacionamento monogâmico de longo prazo. A ideia da “amatonormatividade” é parte do estudo da filósofa Elizabeth Brake que aponta para como as pessoas solteiras, arromânticas ou que apenas valorizam outros tipos de relações sofrem com essa crença.

Com isso temos uma epidemia de pessoas em busca de um romancinho para chamar de seu e finalmente ser “completo”. Os jovens adultos já cansados de procurar em aplicativos de namoro ou em festas, bares e rolês com amigos, encontram-se frustrados e muitos até decidem aceitar relacionamentos disfuncionais apenas pelo medo de estarem sozinhos. Contudo, há uma parcela dentro desses que encontraram um porto seguro onde o romance não só existe, mas é a resposta para tudo que precisamos.

Esse recanto mágico, é claro, são os livros de romance. 

Segundo uma matéria de maio deste ano do ABC News Austrália, o país registrou um crescimento no mercado editorial de romance de mais de 49% no ano de 2024. O cenário no Brasil pode ser considerado semelhante ao australiano, visto que na lista de mais vendidos do ano passado encontramos livros como “É Assim que Acaba” da Colleen Hoover e “Melhor que nos filmes” da Lynn Painter. Como autora nacional independente do gênero, posso dizer que o público, principalmente o feminino, cada vez mais aumenta e mais autoras nacionais estão conseguindo viver da escrita devido a essa demanda.

Esse crescimento se deve muito ao BookTok, nicho do aplicativo TikTok responsável por divulgar dicas de leitura e que hoje em dia tem o poder de tornar livros desconhecidos em best-sellers com apenas um vídeo viralizado. É nesse espaço que nós românticos incuráveis podemos encontrar a dose certa de romantismo em palavras e trazer mais um book boyfriend para a lista interminável de namorados literários.

Há a concepção de que mulheres estarem buscando nos livros aquilo que falta na vida real é algo ruim, mas como bem explicitou a Sophie Gilbert em sua matéria no The Atlantic, livros que são considerados “lixo” para muitos são justamente livros que validam o desejo feminino e leva-nos a refletir sobre limites, comunicação e podem muitas vezes fortalecer relacionamentos reais. Quem nunca se viu numa personagem principal que estava passando por algo semelhante a sua vida e utilizou da experiência dela para lidar com o seu problema?

Pessoalmente, acredito que sim o romance está mais vivo nas páginas que nas ruas, mas isso não significa que nós como sociedade devemos apenas jogar a toalha e nos conformamos que jamais encontraremos nosso amor verdadeiro. Devemos continuar resistindo, lendo romances não apenas como uma fuga, mas um lembrete de que não há nada de errado em querer afeto e ser amado em voz alta, isso é uma necessidade humana tão primordial quanto a fome ou sede. Se a vida moderna nos oferecer apenas amores líquidos, que os livros nos ensinem a bebê-los bem devagar.

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