Foto: Marvel Studios
Dizer que Capitão América: Admirável Mundo Novo teve uma produção conturbada seria, no mínimo, um eufemismo. O longa que marca a estreia de Sam Wilson como Capitão América passou por uma árdua jornada até chegar as telonas. Múltiplos adiamentos, rumores de sessões teste com péssima recepção do público, mudanças de roteiro e refilmagens são apenas alguns dos problemas que o longa passou, levando muitos (e eu me incluo nessa) a acreditarem que o filme seria uma verdadeira bomba. Ao sair da sessão, no entanto, fiquei surpreendido que, apesar de remendos nítidos em tela, Capitão América: Admirável Mundo Novo é um filme que conseguiu me entreter e foi muito melhor do que esperava.
Com a ascensão do General Ross (Harrison Ford) ao cargo de presidente dos Estados Unidos, Sam Wilson (Anthony Mackie) se encontra em meio a uma conspiração dentro do governo americano. Como o novo Capitão América, Sam deve descobrir os planos desta conspiração e impedir que as tensões escalem para um conflito global entre as nações.
Pergunte para qualquer pessoa qual o seu Vingador favorito e dificilmente encontrará alguém que dirá que o Falcão é o herói favorito dela. Sendo bem sincero, Sam nunca teve muito destaque nos filmes anteriores, atuando mais como um coadjuvante de luxo. A pergunta que ficava era: Conseguiria o personagem sustentar uma história como protagonista? Acredito que Anthony Mackie manda muito atuando como Sam, sendo um protagonista carismático e fácil do público se conectar. O ator contracena muito bem com Joaquín Torres (Danny Ramirez), o novo Falcão, Isaiah Bradley (Carl Lumbly) e o presidente Ross, rendendo boas cenas de interações de personagem

Ramirez funciona muito bem como parceiro de Sam, sendo ao mesmo tempo um personagem divertido, carismático e que ajuda avançar a trama. Harrison Ford foi outra surpresa. Ford chega ao MCU substituindo William Hurt no papel de Ross, após a morte do ator em 2022. Confesso que esperava um personagem raso e um tanto caricato, mas Ross rende algumas passagens muito boas em suas intrigas com Sam e até trechos mais emotivos envolvendo o relacionamento conturbado com sua filha Betty.
Entretanto, a participação de Giancarlo Esposito no filme me incomodou bastante. Não que o ator seja ruim, longe disso. Chega a ser impressionante como Esposito consegue ter presença mesmo com os mais rasos dos roteiros. O que incomoda mesmo é ver um ator deste calibre ser desperdiçado em um personagem que essencialmente é um mero capanga que poderia ter sido interpretado por qualquer outra pessoa. Se você já assistiu Breaking Bad (2008-2013) sabe muito bem como Giancarlo consegue ser um excelente vilão e o ator teria total condições de sustentar o papel de antagonista principal de um longa, o que torna ainda mais esquisito terem o desperdiçado desta maneira.
Um aspecto que o filme aborda bem são as diferenças entre Steve Rogers e Sam Wilson. Sam não tomou o soro do supersoldado e isso se reflete nas cenas de ação, fazendo com que o personagem tenha que depender muito mais do uso de artes marciais e improviso, já que ele não possui a força e resistência aprimoradas como Steve. As cenas de ação como um todo são muito boas, seja em combates corpo-a-corpo ou em emabates aéreos com forte inspiração em Top Gun.

Se você é fã de Capitão América: Soldado Invernal (2014) e o clima de espionagem do filme, você provavelmente irá gostar de Admirável Mundo Novo, que é fortemente influenciado pelo segundo longa solo do personagem. Enquanto filme de espionagem, acho que o longa faz um bom trabalho em trazer esse estilo de volta para o MCU e por amarrar algumas pontas soltas que foram simplesmente esquecidas por filmes anteriores, em especial o Celestial gigante no meio do oceano ao final de Eternos (2021).
Já como thriller político, o filme acaba sendo bem superficial e não muito efetivo, apenas introduzindo a questão que leva ao conflito da trama e não realmente explorando-a com profundidade. A sensação que passa é que o filme prefere ficar em cima do muro, nem pendendo para um lado ou para o outro, o que pode muito bem ser uma decisão comercial do longa a fim de evitar qualquer tipo de boicote – especialmente no atual contexto político instável nos Estados Unidos – que poderia afetar a bilheteria do longa. Este não é um problema exclusivo de Admirável Mundo Novo já que é algo recorrente em outras produções do MCU.
Outra crítica recorrente dos filmes da produtora é a fotografia e o uso de cores, ou melhor, o não uso delas. É impressionante como esse filme é visualmente feio, com um filtro cinza e granulado na imagem que deixa as cenas sem vida e bem artificiais. Isso sem contar a quantidades de vezes que é nítido que os atores estão atrás de um fundo verde super falso. São nesses momentos em que percebemos as regravações e cenas que foram inseridas posteriormente na produção. O terceiro ato inteiro e batalha final contra o Hulk Vermelho são recheadas destes problemas, que, novamente, não são exclusivos de Admirável Mundo Novo, mas ainda são bastante incômodos.

Se você acha que eu dei spoiler sobre o Hulk Vermelho no parágrafo anterior, sabia que a própria Marvel te deu este spoiler, já que praticamente toda a campanha de marketing e divulgação do filme focava no personagem e seu confronto com o Capitão, algo que deveria ser mantido como uma surpresa no final do filme. A sensação que passa é que o estúdio não tinha confiança no projeto e decidiram colocar o personagem no material promocional para ajudar a vender o filme para o público, uma decisão que acho um completo tiro no pé.
Mesmo com todos esses asteriscos, Capitão América: Admirável Mundo Novo ainda conseguiu me entreter durante a sessão muito mais do que esperava. Se você gosta de Soldado Invernal e filmes de ação e espionagem ao estilo Bourne, creio que irá se divertir. Está longe de ser o melhor que o MCU já produziu, mas também não é a bomba que outros críticos fazem o filme parecer. Este longa não insulta sua inteligência como Thor: Amor e Trovão (2022) ou Homem-Formiga e a Vespa: Quantummania (2023). Com uma boa atuação de Mackie, uma história básica, mas funcional, sequências de ação legais e um ritmo que não arrasta, este é um filme que vale o ingresso se você busca um filme de ação pipoca que irá entretê-lo por duas horas.
Assista o trailer:
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