Balões, Canetas e Araucárias: A Cena dos Quadrinhos em Curitiba

A reportagem a seguir integra um trabalho de conclusão de curso apresentado como requisito parcial para a obtenção do título de bacharel em Jornalismo pela Universidade Federal do Paraná.

Curitiba é reconhecida como uma capital que valoriza e incentiva a arte e a cultura. Das peças do Festival de Curitiba às exposições do Museu Oscar Niemeyer, dos grandes shows musicais de artistas nacionais e internacionais ao popular Cine Passeio, a cidade oferece uma programação vasta e diversa. No entanto, a capital também se destaca na produção de outro tipo de manifestação artística que, embora muitas vezes não receba a mesma visibilidade, continua a impactar e cativar a imaginação de milhares de pessoas de todas as idades: as histórias em quadrinhos.

Graças à presença da Gibiteca de Curitiba, a eventos como a Bienal de Quadrinhos e a Gibicon, além de uma trajetória histórica profundamente ligada às narrativas gráficas, a cidade tornou-se um polo efervescente para quadrinistas produzirem e divulgarem seus trabalhos.

Entretanto, como em qualquer ramo artístico, trabalhar com arte envolve desafios próprios — e com os quadrinhos não é diferente. Hoje, muitos autores enfrentam obstáculos para viabilizar a produção de suas obras, definir os meios de publicação, conquistar retorno financeiro e alcançar leitores. Ainda assim, cada um encontra suas próprias estratégias para contornar essas questões.

Esta reportagem, portanto, busca investigar justamente isso: de que maneira quadrinistas curitibanos têm encontrado formas de produzir seus quadrinhos e dialogar com um público contemporâneo.

 

ANTERIORMENTE, NO PARANÁ…

Dizer que Curitiba é uma cidade de quadrinhos pode, à primeira vista, soar estranho ou incomum. No entanto, a capital paranaense e a nona arte compartilham uma trajetória que atravessa gerações. Para melhor compreender o cenário atual no qual os quadrinistas curitibanos estão inseridos, é necessário recuperar a história de como os quadrinhos surgiram e se desenvolveram junto à cidade ao longo das décadas.

Os primórdios das narrativas gráficas no estado remontam ao século XIX, com a ilustração Regimento do Anno 1807, Cavalaria de Coritiba (1807), assinada por um artista conhecido como João Pedro, “o Mulato”. A obra pode ser considerada o “marco zero” das narrativas gráficas no Paraná e um dos primeiros exemplos de ilustração com fins de sátira. Entretanto, devido à escassez de documentação sobre a vida de João Pedro — e ao fato de suas obras terem sido descobertas apenas em 1975 —, o caso é tratado mais como um episódio isolado, um ponto mais simbólico do que concreto.

Regimento do Anno 1807, Cavalaria de Coritiba | Reprodução

A ideia de publicação gráfica, nos moldes que conhecemos hoje, surgiu apenas décadas depois, por volta dos anos 1870, na segunda metade do Segundo Reinado (1840–1889), com o periódico O Barbeiro (1870), publicado na cidade de Paranaguá. Na época, o município litorâneo era mais desenvolvido do que a própria capital. Graças ao crescimento de Curitiba e à construção da estrada de ferro que passou a ligá-la à Paranaguá, começaram a ser fundadas as primeiras oficinas de tipografia e litografia, o que pavimentou o caminho para o surgimento da imprensa e dos periódicos ilustrados de humor.

Em 1887, foi lançada a primeira publicação local a utilizar os modernos recursos de tipografia: a Revista do Paraná. Apesar de sua circulação limitada — apenas sete edições —, a revista foi responsável por revelar Narciso Figueras, artista espanhol considerado um dos primeiros grandes nomes das narrativas gráficas em Curitiba.

Figueras criou, em 1888, uma nova publicação intitulada Galeria Ilustrada, ganhando popularidade por suas charges, caricaturas e o segmento Gaveta do Diabo, uma série de histórias ilustradas que utilizavam a linguagem dos quadrinhos. As histórias abordavam um curioso demônio acompanhando a vida cotidiana de uma cidade. A estreia do personagem foi em 11 de novembro de 1888, data de publicação da primeira edição da Galeria Ilustrada.

A Gaveta do Diabo é reconhecida como a primeira HQ curitibana.

Gaveta do Diabo | Reprodução

A virada para o século XX trouxe a Curitiba um período de efervescência na produção gráfica, impulsionado pelo aprimoramento das técnicas de impressão. Essa modernização possibilitou o surgimento de novas revistas e jornais que, embora majoritariamente compostos por textos, também incorporavam ilustrações, charges, cartuns e histórias em quadrinhos.

Publicações como O Olho da Rua (1907) — que teve uma tiragem inicial de 2 mil exemplares, algo incomum para uma estreia — marcaram época. Outras revistas contemporâneas incluem A Carga (1907), A Rolha (1908), A Bomba (1913), Revista do Povo (1916) e o jornal Paraná Moderno (1910).

Um fato curioso e pouco conhecido desse período é que um dos maiores nomes da arte paranaense, Poty Lazzarotto, teve uma breve incursão pelo mundo dos quadrinhos. Aos 14 anos, Lazzarotto publicou uma curta série de tiras em quatro partes, intitulada O Tesouro Oculto, em outubro de 1938, no jornal Diário da Tarde. No mês seguinte, lançou outra série, Haroldo, o Homem Relâmpago, em seis partes — obra fortemente inspirada em personagens como Flash Gordon e Dick Tracy.

Já entre as décadas de 1950 e 1960, o mercado passou por um período de estagnação, causado pela precariedade dos veículos de mídia em que os artistas atuavam e pela ausência de um cenário local favorável ao exercício profissional.

No entanto, a chegada da década de 1970 marcou uma virada para a cena curitibana, com a retomada das tiras e charges nos principais jornais e, sobretudo, com o surgimento da editora Grafipar e o fortalecimento das publicações independentes.

Haroldo – O Homem Relâmpago – Potty Lazzarotto| Reprodução

 

PIONEIRISMOS, EROTISMOS E QUADRINHOS

Quando se observa o panorama histórico das HQs em Curitiba, é difícil não evitar a associação com o chamado “efeito borboleta”, conceito que ilustra como pequenas decisões podem desencadear transformações significativas ao longo do tempo. Se não fosse a aposta ousada — e até inesperada — de uma editora curitibana em investir na produção de quadrinhos eróticos, a cena local seria hoje completamente diferente.

Esta é a história da Grafipar, e de como ela se tornou não apenas uma das editoras mais influentes de sua época, mas também responsável por um legado que impulsionou o desenvolvimento da nona arte em Curitiba e que continua a reverberar até os dias atuais.

A Gráfica Editora Paraná Cultural, mais conhecida como Grafipar, foi fundada em 1960 pelo libanês Said Mohamad El Khatib, inicialmente dedicada à publicação de dicionários e livros didáticos. Entretanto, no final da década de 1970, Faruk El-Khatib, filho do fundador, decidiu reformular completamente a linha editorial e investir em um novo segmento do mercado: os quadrinhos — mais especificamente, os quadrinhos eróticos.

Reprodução Universo HQ

Essa decisão, à época, soava bastante ousada, especialmente diante da censura imposta pelo regime militar. No entanto, a proximidade e amizade de Faruk com um censor local lhe permitiram publicar revistas e histórias em quadrinhos de temática erótica sem grandes restrições.

Os primeiros passos da editora nesse novo campo ocorreram com a edição nº 14 da revista Personal, lançada em 1978. Nela foi publicada a história Bilhete Íntimo, adaptação de uma obra do artista norte-americano Nick Cardy, feita por Luiz Rettamozo. No mês seguinte, Rettamozo produziu a primeira história em quadrinhos original da Grafipar. O sucesso desse segmento dentro da revista e a crescente demanda por HQs eróticas levaram a editora a expandir sua linha e contratar novos artistas.

Com o aumento da produção e a necessidade de profissionais, muitos quadrinistas se mudaram para Curitiba, a fim de trabalhar de forma mais próxima à editora. Claudio Seto, Mozart Couto, Flávio Colin, Júlio Shimamoto, Franco de Rosa, Gustavo Machado, Fernando Bonini, Itamar Gonçalves, Watson Portela e Eros Maichrowicz estão entre os nomes que vieram à capital para integrar o time da Grafipar.

Curiosamente, além de colegas de profissão, muitos desses artistas eram vizinhos no antigo bairro Vila Maria (atual São Brás). Como vários deles moravam próximos uns dos outros, a região ficou conhecida, de forma bem-humorada, como a “Vila dos Quadrinistas”.

Os quadrinhos da Grafipar abrangiam diversos gêneros — faroeste, ficção científica, terror, super-heróis, policial e aventura —, todos produzidos integralmente no Brasil e com uma forte dose de erotismo. Entre os títulos publicados pela editora destacam-se Maria Erótica, Perícia, Neuros, Próton, Katy Apache, Raio Negro, Fêmeas e Zamor, o Selvagem, entre outros.

Quadrinhos Grafipar | Reprodução

Entre os artistas mencionados, Claudio Seto foi um dos principais responsáveis pela coordenação editorial da Grafipar. Vindo da editora paulista Edrel, também especializada em HQs nacionais, Seto trouxe experiência de mercado e um olhar profissional que ajudaram as obras da Grafipar a alcançar leitores em todo o país — competindo, inclusive, com publicações estrangeiras.

A editora atingiu seu auge no início dos anos 1980. Entretanto, com o abrandamento da censura ao longo da década, o mercado se abriu para outras editoras que passaram a apostar em material erótico — e, em muitos casos, explicitamente pornográfico. Para tentar se manter competitiva, a Grafipar passou a publicar revistas infantis e até quadrinhos pornográficos coloridos, mas o acúmulo de problemas gerenciais e financeiros levou uma das maiores editoras de quadrinhos do país a encerrar suas atividades em 1983.

Um dos impactos diretos da atuação da Grafipar em Curitiba foi o surgimento de um terreno fértil para a criação da Gibiteca de Curitiba, em 1982. Claudio Seto tornou-se o primeiro professor de quadrinhos da instituição — tema que ainda será explorado mais adiante nesta reportagem.

Outro marco importante desse período foi o nascimento da publicação independente. Influenciados pela contracultura, pelo movimento underground, pela televisão, pelo cinema e pela música, começaram a surgir os primeiros autores e grupos que produziam e lançavam seus próprios quadrinhos, sem depender de grandes editoras ou veículos de mídia. Muitas dessas produções eram feitas em formato de fanzines, publicações artesanais e de baixo custo.

Casa de Tolerância | Reprodução

Em Curitiba, um dos principais exemplos de produção independente foi o fanzine Casa de Tolerância, fortemente inspirado pela Música Popular Brasileira (MPB) e por periódicos universitários como O Balão, de São Paulo. Lançado em 1976 através do jornal estudantil Kastigo, Casa de Tolerância foi idealizado por Edson José Cortiano, Otávio Duarte e Círico, mesclando tiras, charges e textos.

A produção chamou a atenção de outros artistas — entre eles Key Imaguire Jr., Dante Mendonça e Zuateg — que passaram a colaborar nas edições seguintes. Embora a revista tenha tido vida curta, com apenas três números publicados, esse movimento coletivo foi decisivo para consolidar relações entre os quadrinistas da cidade e fortalecer a cena que começava a se formar em Curitiba.

Foi a partir desse ambiente criativo que o arquiteto e artista Key Imaguire Jr. percebeu a necessidade de um espaço físico dedicado ao encontro, à troca e ao desenvolvimento de projetos de quadrinhos. Some-se a isso o fato de Curitiba concentrar um grande número de artistas que circulavam em torno das produções da Grafipar, e estava formado o terreno fértil para que a ideia da Gibiteca de Curitiba finalmente ganhasse forma.

Fundada em 1982, a Gibiteca de Curitiba é o primeiro espaço no Brasil dedicado integralmente à preservação da memória dos quadrinhos e ao estímulo de novos artistas e leitores. Com mais de 40 anos de história, conta com um acervo superior a 40 mil exemplares, entre obras nacionais e estrangeiras.

Além de seu papel preservacionista, a instituição exerce uma função essencial na formação e promoção de novos quadrinistas, oferecendo cursos de ilustração de quadrinhos e mangás, aquarela, roteiro, desenho com modelo vivo, ilustração digital, animação 2D e 3D, entre outros. A Gibiteca também promove exposições, workshops, palestras, visitas guiadas e eventos voltados à cultura pop e geek.

NOTA: Para aqueles que tiverem interesse de um histórico ainda mais aprofundado sobre a trajetória dos quadrinhos em Curitiba, recomenda-se a leitura do livro Narrativas gráficas curitibanas (2019) do autor José Aguiar (@quadrinhofilia), obra que serviu de referência e fonte para esta reportagem.

Diante de todo esse panorama histórico, é natural que surja a dúvida: como se dá a produção de quadrinhos em Curitiba atualmente? Afinal, a virada para o século XXI revolucionou a forma como pensamos e interagimos em sociedade, graças à ascensão do meio digital. A chegada da internet, das redes sociais e o aprimoramento de programas e técnicas de edição abriram um novo universo de possibilidades, especialmente para os quadrinistas independentes que aspiravam divulgar seus trabalhos para o mundo.

Narrativas Gráficas Curitibanas | Reprodução José Aguiar

 

A NOVA FRONTEIRA

A ascensão do meio digital abriu uma ampla gama de possibilidades para artistas, especialmente aqueles inseridos no cenário independente — isto é, artistas que atuam fora do grande circuito de produção cultural, como editoras, estúdios ou companhias já consolidadas. O mesmo ocorreu também no universo dos quadrinhos.

As webcomics — quadrinhos produzidos e publicados diretamente na internet — tornaram-se extremamente populares com a circulação em blogs e em redes sociais como Instagram, Twitter/X e Tumblr. De acordo com os pesquisadores José Arlei Cardoso e Ana Cláudia Munari Domingos, no artigo Webcomics e Hiperleitura (2016), essas produções têm obtido sucesso tanto na atração quanto na fidelização de leitores. Métricas como número de seguidores, quantidade de leituras em plataformas digitais e interações entre autor e público não apenas ampliam a divulgação do trabalho artístico, como também abrem caminho para a transposição do conteúdo digital para o formato físico, especialmente por meio de campanhas de financiamento coletivo.

Um quadrinista que soube aproveitar essa estratégia é Yoshi Itice (@yoshiitice). Aos 38 anos, Thiago Yoshiharu Itice — nome de batismo do artista — é um quadrinista curitibano que iniciou sua trajetória em 2010, publicando tiras quase diariamente em seu site Lobolimão até 2015. Graças ao engajamento online e à formação de um público fiel, Yoshi conquistou popularidade suficiente para expandir seus projetos do meio digital para o físico: “[…] desde 2012 já publiquei mais de 14 quadrinhos impressos, também participei de umas 10 coletâneas, além de contribuições em outras publicações como ilustrador e colorista.”

Yoshi Itice | Foto Acervo Pessoal

Entre seus trabalhos, destacam-se Last RPG Fantasy (2012), seu primeiro quadrinho publicado, uma leitura interativa com múltiplos finais que recebeu o Troféu Angelo Agostini na categoria de Melhor Publicação Independente; Batsuman, série de tiras parodiando o Batman, publicada em dois volumes (2014 e 2016); e a série autoral de aventura e fantasia Eventos Semiapocalípticos, lançada em cinco volumes entre 2017 e 2022. Itice também participou de coletâneas como Fast Comics (2014), Entre 4 Linhas (2014) e Fliperamas (2015), além de atuar como um dos ilustradores da trilogia A Samurai (2015–2022).

Mesmo abordando temas distintos em suas obras, Itice explica que há três pontos que tangenciam todo o seu trabalho: “Primeiro, eu escrevo para todas as idades. […] Segundo, eu tempero minhas obras com as minhas verdades, ou seja, com os meus sentimentos reais e a maneira como vejo o mundo e as pessoas à minha volta. E acredito que isso cria conexões genuínas com os leitores. Terceiro, eu gosto muito de experimentar com a linguagem da narrativa gráfica. Entre meus quadrinhos você vai encontrar histórias não lineares, trocas de estilo visual entre capítulos, livros que se conectam de maneira inesperada e até situações em que o leitor precisa, literalmente, ler o livro de cabeça para baixo.”

Eventos Semiapocalípticos | Reprodução Yoshi Itice

O trabalho mais recente de Itice também é um dos de maior projeção: ele foi convidado a produzir um quadrinho da Turma da Mônica pelo selo Graphic MSP. Para contextualizar, trata-se de uma linha editorial paralela em que quadrinistas são convidados a reimaginar os clássicos personagens de Mauricio de Sousa, em narrativas autônomas de cerca de 70 páginas, voltadas a um público mais adulto. No caso do quadrinista curitibano, o convite resultou em Do Contra: Herança (2024), obra que apresenta uma aventura na qual o personagem reflete sobre sua identidade enquanto brasileiro e descendente de japoneses.

“Pra mim, esse convite foi uma oportunidade de me comunicar com um público que eu, sozinho, jamais conseguiria atingir. Minhas tiragens independentes são de mil a dois mil exemplares. Com a força da Turma da Mônica, eu sabia que estaria conversando com o país inteiro. Então, quando me deram a oportunidade de falar sobre a minha ascendência asiática, tomei como um dos meus objetivos criar uma carta fraterna a todos os nikkeis do país. Fico feliz que o resultado tenha sido satisfatório”, conta o quadrinista.

Do Contra | Reprodução Mauricio de Sousa Produções

Do Contra: Herança recentemente conquistou o Troféu HQMIX, prêmio considerado o “Oscar dos quadrinhos brasileiros”, na categoria de Melhor Publicação Infantil.

Quanto ao futuro, Itice planeja publicar ainda em 2025 o quadrinho Uma Tigela de Alma e Ossos, produzido nos moldes de Last RPG Fantasy. A obra promete trazer ao leitor uma aventura interativa, com a possibilidade de quatro finais diferentes, definidos pelas escolhas tomadas durante a leitura.

Outro ambiente em que as webcomics e os quadrinistas têm encontrado solo fértil para crescer e desenvolver suas obras são as plataformas de leitura gratuita de quadrinhos. Entre elas, destacam-se as específicas para leitura digital, como Fliptru, Funktoon, Tapas e Webtoon. Foi dentro de uma dessas plataformas que Henrique S. Hahn (@henriqueshahn) se aventurou com sua primeira publicação autoral.

Aos 33 anos, Hahn é designer, ilustrador e autor independente de quadrinhos. Desenhar e imaginar histórias é algo que sempre fez parte de sua vida, mas, como ele mesmo descreve, era uma atividade que nunca havia “saído da caixinha”. Anos mais tarde, durante uma visita despretensiosa à Gibicon, teve contato direto com o universo dos quadrinhos ao assistir palestras e rodas de conversa com artistas do meio.

Henrique S. Hahn | Foto Acervo Pessoal

“Aquilo me encantou os olhos e me deu um estalo na cabeça: eu quero trabalhar com isso”, relembra o quadrinista. A partir desse momento, passou a buscar cursos voltados à criação e escrita de roteiros para HQs.

Foi nas aulas de roteiro da Gibiteca de Curitiba que Hahn se tornou um dos membros fundadores do Coletivo Biarticulado (@coletivobiarticulado), ao lado de outros alunos do curso. Criado em 2020, o coletivo reúne roteiristas e artistas independentes que trabalham de forma colaborativa na produção de coletâneas de quadrinhos, em que cada integrante assina uma história diferente.

Entre as obras do Coletivo Biarticulado estão Crônicas Pandêmicas (2020), uma coletânea de quadrinhos sobre o tema da pandemia; Próxima Parada (2023), o primeiro fanzine do grupo, com histórias diversas; Cybertiba: Crônicas de uma Curitiba Cyberpunk (2024), com tramas ambientadas em um futuro distópico da capital paranaense; e o mais recente Cotidianos Fantásticos (2025), que reúne histórias de aventura e fantasia.

Quadrinhos Coletivo Biarticulado | Reprodução

A partir de 2023, Hahn deu início ao seu primeiro projeto solo, Monbuilder, publicado gratuitamente na plataforma Fliptru. “É minha primeira experiência com publicação digital nessas plataformas. Antes, eu só tinha postado umas duas tirinhas no Instagram. No geral, está sendo positivo. É fácil de publicar por lá e ter engajamento, mesmo que dentro de um nicho restrito, mas ainda assim existe engajamento”, comenta.

Esse é um dos aspectos que o quadrinista mais destaca: o engajamento. Embora o Fliptru seja uma plataforma de nicho, o público é bastante ativo, promovendo uma interação constante entre autores e leitores e gerando um forte senso de comunidade.

Até o momento em que esta reportagem foi escrita, Hahn já publicou 22 edições de Monbuilder, distribuídas em dois volumes. A obra é uma história de aventura e fantasia que mistura elementos de algumas de suas referências favoritas, como Pokémon e Digimon, além de influências de quadrinhos, mangás e animações dos anos 2000.

Monbuilder | Reprodução Henrique S. Hahn

Hahn também observa como os meios digitais ampliaram o alcance de artistas independentes:

“O que antes poderia ser só um público local, agora consegue se expandir para uma escala nacional. Eu, que sou um autor pequeno, tenho leitores em Salvador, São Paulo, Rio de Janeiro — mesmo sendo de Curitiba. Se não fosse pelo meio digital, eu não só não teria chegado a esse público, como talvez nem estivesse trabalhando com quadrinhos hoje ou em contato com outros artistas.”

Para ele, as plataformas digitais “são o futuro do quadrinho independente”, tanto pela facilidade de entrada para autores e leitores quanto pelo feedback direto entre criador e público. Além disso, o quadrinista destaca como o formato digital tem transformado o modo de pensar a narrativa visual, especialmente na adaptação do layout à leitura vertical, ideal para celulares e computadores:

“Alguns artistas hoje já não têm mais aquele pensamento da ‘virada de página’. Estão criando histórias pensadas para serem lidas na vertical, diretamente pelo celular.”

Quanto ao futuro, Hahn pretende continuar trabalhando em Monbuilder e em outros projetos do Coletivo Biarticulado. Em 2025, publicou fisicamente o volume 1 de Monbuilder, em uma pequena tiragem viabilizada por financiamento coletivo, reunindo as seis primeiras edições do quadrinho.

Para aqueles que tiverem interesse em ler as edições de Monbuilder, a obra está disponível através da plataforma Fliptru.

 

A UNIÃO FAZ A FORÇA

A partir da década de 2010, as plataformas de financiamento coletivo — popularmente conhecidas como “vaquinhas virtuais” — tornaram-se grandes aliadas dos mais diversos ramos de produção artística independente, como livros, curtas e longas-metragens, música, videogames e, claro, quadrinhos. Há inúmeros exemplos, no Brasil e no exterior, de projetos independentes que só se concretizaram graças ao financiamento coletivo e que acabaram se tornando grandes sucessos.

Com o aprimoramento tecnológico e dos softwares, além da relativa facilidade de acesso a esses recursos, hoje é possível produzir e diagramar um quadrinho ou livro diretamente de casa. Já não existe a mesma dependência de uma grande editora ou veículo de mídia para viabilizar uma publicação, como explica o quadrinista e pesquisador José Aguiar: “Quando comecei, éramos muito dependentes da estrutura formal de uma editora. Ainda havia a mentalidade de escritório prevalecendo. Hoje somos mais independentes — no que há de bom e de ruim nessa mudança de paradigma de trabalho.”

O uso da palavra “relativa” no parágrafo anterior é proposital, já que, embora existam hoje mais opções e recursos disponíveis do que há 20 anos, ainda é necessário certo investimento em equipamentos como computador, mesa digitalizadora e softwares de edição e diagramação, além dos custos com impressão e distribuição, caso o autor queira produzir um quadrinho com qualidade profissional.

Quadrinhos José Aguiar | Reprodução

Sob esse prisma, o uso de sites de financiamento coletivo tornou-se uma estratégia eficaz para vencer uma das principais barreiras enfrentadas por quadrinistas independentes: o custo de produção.

Não há um modelo único para a elaboração dessas campanhas. O responsável pode definir, por meio da plataforma, a meta financeira, o prazo de arrecadação e as categorias de recompensas oferecidas aos apoiadores. Essas recompensas funcionam como incentivo à colaboração, oferecendo benefícios proporcionais ao valor doado.

Entre as recompensas mais comuns estão: inclusão do nome nos agradecimentos, cartelas de adesivos, marcadores de página, acesso antecipado à obra, esboços e rascunhos de produção, edições especiais, pelúcias, entre outros itens — conforme a estrutura de cada campanha.

De acordo com a pesquisa de José Arlei Cardoso e Ana Cláudia Munari Domingos em Webcomics e Hiperleitura (2016), é recorrente entre quadrinistas independentes consolidar uma base de leitores no meio digital e, a partir disso, viabilizar a publicação de suas webcomics em formato impresso. O sucesso e o engajamento de uma obra online tendem a influenciar diretamente a arrecadação em campanhas de financiamento coletivo, contribuindo para a viabilidade financeira do projeto.

Essa é uma ideia que Yoshi Itice reforça. Tendo realizado mais de dez campanhas de financiamento coletivo bem-sucedidas, o quadrinista destaca que o aspecto “coletivo” é mais importante do que o “financiamento” em si para o sucesso de uma campanha: “Se a gente mantém o olhar só pra dentro, só pra si, pensando apenas nos próprios números e necessidades, comete muitos erros. Tem que olhar pro leitor, se colocar no lugar dele, pensar como ele e fazer as coisas por ele. Quando você entende que a campanha é para juntar pessoas, e que o financiamento do produto será uma consequência disso, tudo fica muito mais fácil.”

Quem também acumulou experiência com campanhas de financiamento coletivo foi a quadrinista Mylle Pampuch (@myllepampuch), que desenvolveu nove projetos nesse formato para publicar seus quadrinhos. Ela, no entanto, acabou deixando a modalidade de lado, apontando a incerteza da viabilidade financeira como principal motivo: “Não basta simplesmente postar a campanha e achar que ela vai se desenvolver automaticamente. É preciso muita divulgação e engajamento. […] Eu não tive nenhuma campanha que deu errado, mas me preocupava muito não conseguir juntar o dinheiro. Basicamente, eu vivo de editais; não tinha emprego fixo ou renda paralela para viabilizar esses projetos. Por isso, migrei para os editais.”

Mylle Pampuch | Foto Carol Lopes

Aos 39 anos, Pampuch é escritora e quadrinista, e iniciou sua trajetória no mercado independente em 2013, ao lado do coletivo Lobolimão. Ao fazer amizade com Yoshi Itice e outros colaboradores do grupo, começou a acompanhar o coletivo em convenções de quadrinhos em Curitiba, São Paulo e Belo Horizonte, o que lhe proporcionou um contato mais próximo com artistas e processos criativos.

Desde jovem gostava de escrever, criar histórias, ler quadrinhos e, principalmente, mangás — além de nutrir uma forte paixão pelo Japão. No entanto, por não dominar a ilustração, nunca havia considerado a produção de quadrinhos algo possível, até que teve um insight: “Eu posso escrever os meus quadrinhos e chamar outras pessoas para desenhá-los”, conta.

Entre suas obras publicadas destacam-se a trilogia A Samurai (2015–2022), que narra a trajetória de uma mulher samurai no Japão feudal; Doce Jazz (2019), uma HQ muda em que a narrativa é conduzida apenas pelas ilustrações; e Zahira: Um conto de Al-Andalus (2021), uma aventura ambientada na Espanha moura durante a Guerra de Granada, entre outras.

O ano de 2021 marcou um ponto de virada na forma como Pampuch desenvolve seus quadrinhos autorais: a partir de então passou a focar exclusivamente na produção por meio de editais de incentivo à cultura.

A Samurai | Reprodução Mylle Pampuch

 

ARTE PÚBLICA

Além dos métodos de publicação já citados ao longo desta reportagem, outra forma que quadrinistas têm encontrado para captar recursos e viabilizar a produção e divulgação de suas obras é por meio dos editais de incentivo à produção artística e cultural.

Por meio da Fundação Cultural de Curitiba (FCC) e do Programa de Apoio, Fomento e Incentivo à Cultura de Curitiba (PAFICC), artistas locais têm acesso a recursos e mecanismos para executarem seus projetos em diversas áreas, como artes visuais, música, teatro, circo, literatura e — mais relevante para o tema desta reportagem — quadrinhos.

Entre os diferentes editais, há um especialmente voltado para a produção de quadrinhos: o Edital de Publicação/Quadrinhos – Gibiteca de Curitiba. Anualmente, o edital é aberto e artistas locais podem se inscrever no processo seletivo. Ao todo, são selecionados dez projetos para publicação.

Entre Os Atos de Sideria | Reprodução Mylle Pampuch e Má Matiazi

O edital de 2025, por exemplo, disponibilizou um valor total de R$ 300.000,00, sendo R$ 250.000,00 destinados à produção dos quadrinhos selecionados e R$ 50.000,00 voltados à execução do próprio edital. Cada projeto pode receber até R$ 25.000,00 para desenvolvimento, podendo ser conduzido por um artista solo ou por um coletivo de quadrinistas.

É importante destacar que, das dez vagas oferecidas, duas são destinadas a pessoas autodeclaradas negras, uma a pessoas autodeclaradas indígenas e uma a pessoas com deficiência (PCDs), enquanto as demais compõem a livre concorrência.

O quadrinista e pesquisador José Aguiar explica em detalhes como se dá o processo de participação em um edital:

“De modo geral é assim: o edital é publicado, seu conteúdo é estudado, então formula-se um projeto com justificativas, documentação comprobatória exigida e cronograma financeiro indicando como cada centavo será gasto na produção do quadrinho. Feita a inscrição, é preciso aguardar longos meses para saber se o projeto foi classificado. Depois, se foi convocado e habilitado a receber o recurso. Nesse processo cabem recursos de revisão de notas, por exemplo. […] Terminada a captação, o projeto enfim começa a ser executado.”

Aguiar comenta que esse modelo de trabalho exige paciência, profissionalismo e persistência por parte do quadrinista para conseguir enquadrar seu projeto nas especificações dos editais de incentivo. Entretanto, ele ressalta que esse tipo de fomento é fundamental para a viabilização de muitas obras: “Não temos um mercado forte a ponto de se auto sustentar. Sem falar que obras mais experimentais, sem apelo comercial, mas artisticamente únicas, têm sua chance por meio desses mecanismos de fomento, que precisam ser aperfeiçoados e expandidos continuamente”.

No caso de Mylle Pampuch, a escritora explica que sua transição do financiamento coletivo para os editais de quadrinhos ocorreu em busca de maior segurança e estabilidade financeira. Embora seja possível arrecadar valores mais altos em campanhas de financiamento coletivo, não há garantia de que o autor conseguirá atingir a meta necessária para viabilizar o projeto.

Arrojadas | Reprodução Mylle Pampuch

Essa mudança também acabou refletindo nas temáticas de suas obras, que passaram a abordar assuntos mais regionais e ligados à história de Curitiba e do Paraná. “Por se tratar de dinheiro público destinado a esses quadrinhos, pensa-se muito na ideia do que a obra pode ‘devolver’ à sociedade em termos de valor artístico e cultural. É por isso que quadrinhos com temática local acabam tendo preferência dentro dos editais”, explica Pampuch.

Por meio dos editais, a quadrinista lançou obras como Um Motor e Seus Corações (2021), uma HQ infantil sobre a primeira ambulância do Hospital Pequeno Príncipe; Entre os Atos de Sideria (2022), que aborda a criação da primeira ópera escrita e montada em Curitiba; e Arrojadas (2023), um resgate histórico sobre mulheres paranaenses que se destacaram em suas áreas de atuação.

Um aspecto interessante do processo criativo de Pampuch é que, desde 2017, a autora trabalha exclusivamente com mulheres ilustradoras em seus quadrinhos. “Naquele ano, trabalhei em um derivado de A Samurai, chamado Primeira Batalha, que conta a primeira aventura da personagem. Esse projeto foi feito apenas com ilustradoras. Achei super legal, algo que combinava com o quadrinho. Desde então — com exceção do terceiro volume de A Samurai — só chamei mulheres para desenharem minhas obras. É algo que conversa com o que eu escrevo.”

Quanto aos próximos projetos, Pampuch já planeja um segundo volume de Arrojadas, narrando a história de mais seis mulheres paranaenses, além do roteiro de um quadrinho sobre a trajetória de Cláudio Seto — quadrinista que atuou nos tempos áureos da Grafipar e figura essencial na formação da Gibiteca de Curitiba, onde foi o primeiro professor da instituição.

 

LEGADO E PLURALIDADE

Por falar em Gibiteca (@gibitecadecuritiba), é hora de falar desta instituição. Localizada no centro de Curitiba, a Gibiteca é uma iniciativa pioneira e um dos grandes centros de referência do universo dos quadrinhos no Brasil, tanto na preservação de material, quanto no fomento a novos artistas.

Mantida pela Fundação Cultural de Curitiba (FCC), a Gibiteca foi a primeira instituição do gênero criada no país, tornando-se modelo para outras gibitecas espalhadas pelo território nacional. Seu acervo conta atualmente com mais de 40 mil exemplares de histórias em quadrinhos catalogados, abrangendo produções nacionais e estrangeiras. Além da função de preservação, a instituição desempenha papel fundamental na formação e promoção de novos quadrinistas.

Em suas instalações são oferecidos, a preços acessíveis, cursos de escrita de roteiro, desenho, ilustração digital, aquarela e mangá, com turmas que variam do nível iniciante ao avançado. A Gibiteca também promove exposições, workshops, palestras, visitas guiadas para estudantes da rede pública e eventos voltados à cultura pop e geek.

Um ponto importante a destacar é que todos os quadrinistas entrevistados para esta reportagem tiveram passagem pela Gibiteca — seja por meio dos cursos de formação, seja como professores dessas atividades. Todos, sem exceção, ressaltam a importância e a influência do espaço, especialmente no fomento artístico.

Gibiteca de Curitiba | Foto: Cido Marques

Até o momento, esta reportagem explorou as diferentes maneiras encontradas pelos autores para se adaptarem aos novos tempos e estilos de produção e consumo. No entanto, há um elemento essencial que não pode ser esquecido: o público. Afinal, para que um gênero artístico continue a se desenvolver é preciso incentivar e despertar a curiosidade de novas gerações de leitores — pessoas que irão ler, pensar, discutir e, quem sabe, produzir essa arte.

Esta é uma ideia reforçada por José Aguiar: “Se o leitor não nos consome, não temos estímulo para tornar nossa arte  uma prioridade. Precisamos de um círculo virtuoso com mais leitores do que artistas. Senão os independentes acabam produzindo só entre eles. É bom ter intercâmbios entre a classe.”

Nesse sentido, a Gibiteca e eventos como a Bienal de Quadrinhos de Curitiba desempenham um papel fundamental na divulgação e promoção de artistas independentes — locais e de outras regiões do país —, além de contribuírem para cativar um novo público.

A ascensão das plataformas digitais, das redes sociais e da publicação independente abriu espaço para uma maior diversidade de vozes e temas nos quadrinhos. Mylle Pampuch comenta: “Nesses dez anos em que estou trabalhando com quadrinhos independentes, houve uma grande abertura para trabalhos de mulheres, quadrinistas negros e indígenas. Quadrinhos ainda são um ambiente muito masculinizado, mas essa abertura para outras pessoas lendo e produzindo é algo muito legal. Tem muitas mulheres produzindo e conquistando visibilidade nacional.”

Entre os artistas que simbolizam essa pluralidade está o coordenador da Gibiteca de Curitiba, Fulvio Pacheco (@fulvio_pacheco). Aos 48 anos, Pacheco tem uma longa trajetória ligada ao espaço: frequenta a Gibiteca desde o ensino médio, em meados dos anos 1990, quando participava de cursos oferecidos pela instituição. Entre 2001 e 2004, já na faculdade de artes, iniciou um estágio na Gibiteca e, posteriormente, tornou-se professor. Desde 2015, ocupa o cargo de coordenador.

Fulvio Pacheco | Foto Acervo Pessoal

Além de sua extensa atuação dentro da Gibiteca, Pacheco possui um catálogo expressivo de obras publicadas. “Eu já participei de 50 quadrinhos, talvez até mais. Mas desconsiderando as coletâneas em que fui convidado a participar e pensando só nos meus, são 15, quase todos no gênero do terror, especificamente no terror local ou folclórico. Tanto que minha personagem mais recorrente é a Loira Fantasma, que inclusive teve um álbum próprio.”

Fora o terror, outro tema recorrente em suas obras é o autismo. Pacheco é uma pessoa autista e pai de um garoto autista, e enxerga nos quadrinhos uma forma de abordar o tema com sensibilidade e empatia. “Em 2016 lancei um quadrinho chamado Relatos Azuis, que fez muito sucesso. Foi publicado praticamente no Brasil inteiro e acabei sendo convidado a participar do programa do Marcos Mion. […] Meu projeto mais recente é Relatos Autistas (2025), que fiz em colaboração com outros artistas convidados. Acho que esse é meu quadrinho mais legal e mais bem feitinho [risos].”

Essa pluralidade de autores e temáticas mostra que os quadrinhos vão muito além das histórias de super-heróis ou da Turma da Mônica. Trata-se de uma mídia versátil, que acolhe narrativas de todos os gêneros e estilos, e autores e leitores de diferentes origens, perspectivas e interesses.

Relatos Autistas | Reprodução Fulvio Pacheco

 

NA PRÓXIMA EDIÇÃO!

Por mais que a produção de quadrinhos independentes em Curitiba tenha crescido e se desenvolvido graças aos fatores explorados ao longo desta reportagem, ainda há muitos desafios e barreiras a serem superados.

A questão financeira continua sendo o maior obstáculo na produção independente, um sentimento partilhado por todos os quadrinistas entrevistados. Produzir HQs é um processo longo e custoso. O artista independente costuma ser responsável por todas as etapas da criação: escrever, ilustrar, diagramar, enviar para a gráfica, divulgar e vender o projeto. Como descreve o quadrinista Henrique S. Hahn, “é um exército de uma pessoa só”

Poucos conseguem se dedicar exclusivamente à produção de quadrinhos, recorrendo a trabalhos de escrita e ilustração como freelancers e desenvolvendo suas obras nas horas vagas. Não por acaso, a busca por financiamento coletivo e editais culturais se tornou essencial para viabilizar projetos.

Outro obstáculo, ainda que em menor escala, é a persistente desvalorização dos quadrinhos como uma “arte menor”, muitas vezes subestimada em relação a outras formas de expressão artística.

Mas, se há algo que a história ensina, é que a arte sobrevive porque se adapta. E com os quadrinhos não é diferente. A apropriação de novos meios de produção, o surgimento de formatos voltados ao ambiente digital e a ampliação da diversidade de vozes e perspectivas mostram que essa linguagem continuará a evoluir, inspirar e cativar novas gerações.

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