O roteirista e jornalista Antonio Arruda estreia na literatura com o livro O corte que desafia a lâmina, publicado pela Editora Cachalote. A obra, que mistura elementos autobiográficos e ficcionais em textos curtos e poéticos, propõe uma travessia intensa por temas como dor, violência, sexualidade e espiritualidade, ancorada em uma estética que o autor denomina como “da cicatriz”.
Reconhecido por trabalhos no audiovisual, Arruda venceu o Prêmio APCA em 2014, foi indicado ao Prêmio ABRA em 2022 e atuou como roteirista da série Cidade Invisível (Netflix). Em seu livro de estreia, o autor apresenta uma escrita sensível e dilacerante que se propõe a transformar o sofrimento em matéria de criação. A primeira reimpressão da obra já está confirmada ainda neste ano, resultado da boa recepção do público.
O lançamento em Aracaju (SE) está marcado para 3 de julho, às 19h, no Memorial Imbuaça, com leitura de trechos por artistas convidados, como Rita Maia e Rogério Santos Alves. A obra já passou por lançamentos em cidades como São Paulo, Santos, Florianópolis e Rio de Janeiro. Em maio, foi tema de debate no Clube de Leitura “O Inconsciente em Verso”, coordenado pela psicóloga e psicanalista Mariana Giorgion.
A obra constrói um percurso que funde corpo e linguagem em um embate simbólico entre a lâmina e o corte. O conto de abertura, Em nome do filho, traz um homem que precisa retirar uma parte doente de si para sobreviver. Em outra cena, alguém carrega uma carcaça de tartaruga até o mar e desaparece com ela. Para Arruda, cada texto é um mergulho em dores inauditas e experiências-limite que apontam para o anímico e o epifânico.
“É o resultado do atravessamento do eu por suas dores e traumas”, afirma o autor, que apresenta a obra como uma coleção de fragmentos marcados por silêncio, rito e transformação. A proposta, segundo ele, é que a cicatriz — e não o corte — se torne o ponto de fixação estética e simbólica da leitura.
A escrita de Antonio é profundamente atravessada por sua trajetória pessoal. Homem gay assumido desde os 17 anos, ele aborda em sua literatura temas como homoerotismo, repressão cotidiana, morte e desejo. As violências vividas se transformam em linguagem, em um gesto de enfrentamento e elaboração subjetiva.
Sua ligação com religiões de matriz africana também atravessa a obra. Filho de santo e praticante da umbanda desde a infância, o autor incorpora elementos míticos, espirituais e simbólicos aos textos, reforçando uma dimensão ritualística da linguagem.
Trajetória multifacetada
Nascido em Guarulhos (SP) em 1977, Antonio Arruda é formado em Jornalismo pela Cásper Líbero e mestre em Teoria Literária e Literatura Comparada pela USP. Atuou como jornalista na Folha de S. Paulo, professor de literatura e comunicação e, atualmente, trabalha como coordenador pedagógico. No audiovisual, assinou roteiros de programas como Quintal da Cultura, Era uma vez no Quintal e do longa O Mel é Mais Doce que o Sangue (2023), dirigido por André Guerreiro Lopes.
A publicação do livro marca a realização de um desejo antigo. “A palavra poética faz parte da minha vida desde sempre. Ver esse livro publicado é a concretização de um sonho que carrego desde os nove anos”, conclui.
Via Assessoria de Imprensa