Ainda não é amanhã: direitos ameaçados, discussões estagnadas

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Ainda não é amanhã, primeiro longa-metragem da pernambucana Milena Times — diretora premiada pelos curtas Represa (2016) e Au Revoir (2013) — estreia nos cinemas em 5 de junho, após uma trajetória marcante por festivais nacionais e internacionais. A estreia internacional ocorreu no Festival de Cinema de Mar del Plata, e a nacional no Festival do Rio, onde Mayara Santos recebeu o prêmio de Melhor Atriz na mostra Premiere Brasil Novos Rumos (2024). No 20º Panorama Internacional Coisa de Cinema (Salvador, BA), o filme conquistou os prêmios de Melhor Direção para Milena Times e Melhor Atuação para Mayara Santos.

A trama acompanha Janaína (Mayara Santos), jovem negra de 18 anos criada pela mãe (Clau Barros) e pela avó (Cláudia Conceição) em um conjunto habitacional da periferia do Recife. Bolsista em uma faculdade de Direito, ela tem a chance de ser a primeira da família a concluir o ensino superior. Quando descobre estar grávida, precisa reavaliar seus planos, a história da família e suas próprias escolhas.

A obra mergulha na intimidade da personagem para tratar com sensibilidade e contundência os dilemas em torno de uma gravidez indesejada em um país onde o aborto segue criminalizado. Periférica e bolsista, Janaína se vê diante de uma decisão difícil: manter ou não a gravidez? O filme não oferece respostas fáceis, mas convida o espectador a refletir sobre o impacto das restrições legais e morais impostas às mulheres brasileiras. É um soco suave no estômago — uma ficção que revela o que tantas jovens enfrentam em um contexto de desigualdade e falta de direitos reprodutivos.

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A diretora afirma:

“Pessoas optam pela interrupção voluntária da gravidez em qualquer lugar do mundo, por inúmeras razões, independente de ser permitido. As restrições sociais e legais só contribuem para que seja uma prática insegura e desassistida, especialmente para quem tem menos instrução e poder aquisitivo. Boa parte dos efeitos individuais e sociais mais danosos são resultado da própria criminalização, do silêncio, da falta de informação.”

Os dados são alarmantes. No Brasil, uma mulher morre a cada 28 internações por tentativa de aborto mal-sucedido. Entre 2021 e 2022, foram registradas 483 mortes por esse motivo.

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Mais do que entreter, Ainda não é amanhã busca sensibilizar e provocar reflexão. Um filme necessário, que joga luz sobre escolhas individuais em meio a uma estrutura social opressiva.

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