A comédia escrita e dirigida por Fabio Porchat, “Agora é que são elas”, teve sua estreia nacional no segundo dia do Festival de Curitiba. Com Julia Rabello, Maria Clara Gueiros e Priscila Castelo Branco, as diversas esquetes cômicas se mesclam em seus temas atuais e críticos, com um pequeno interlúdio de stand-up.
O espetáculo marca o retorno de Porchat para os bastidores após tantos anos nos holofotes ou em ambos os lugares. Em seu texto, o humorista faz piada com ações sociais do cotidiano que para aqueles que se atentarem minimamente conseguem encontrar questionamentos e reflexões.
Um dos pontos mais fortes, é a esquete “Selfie”, onde a fã de uma tiktoker começa a comentar sobre sua aparência pessoalmente, da mesma forma que muitos seguidores fazem nas redes sociais. Levando, assim, o público a rir e refletir sobre palavras que condenam no mundo sem lei da internet.
Outro ponto abordado fortemente é a positividade tóxica. Um personagem carregado pela Lei de Murphy, não se deixa abalar por nada, mesmo quando sua mãe morre, seu pai entra em coma e um tubarão arranca seu braço direito.
É nessa narrativa paralela entre o real e ficcional que se encontra a dramaturgia de “agora é que são elas”. A quarta parede, tão questionada pelo teatro contemporâneo, aqui também é rompida entre uma esquete e outra, para dar espaço a um texto estilo ‘stand-up comedy’. As próprias atrizes comentam situações parecidas que vivenciaram com as cenas escritas por Porchat.
O cenário exuberante proporciona a versatilidade cênica que uma peça de uma hora e meia precisa ter, possibilitando que o elenco possa entrar e sair de cena de formas alternativas, convergindo com a temática que está sendo apresentada naquele momento.
Já a iluminação, que muda a cada esquete, deixa a cena mais performática e transforma os corpos cênicos em grandes espetáculos corporais, mesmo com pouco teatro físico e mais dramaturgia.
Porhat se consagra agora como encenador. É para além da dramaturgia do ‘Porta dos Fundos’ entre outros textos já escritos. Em ‘agora é que são elas’, ele mergulha de fato em cada detalhe, trejeito e intenção cênica, possibilitando que conhecemos um artista que não fica só no riso, mas perpassa também por todos os ambientes técnicos de produção.
O trio feminino do elenco é impecável em suas performances. Maria Clara Gueiros traz grandes emoções ao público por sua presença cênica, afinal são muitos os espectadores que cresceram assistindo suas esquetes na televisão ou personagens cómicas em filmes nacionais. Afinal, é Maria Clara Gueiros.
Julia Rabello e Priscila Castello Branco são outras duas grandes atrizes do humor que se propõe no jogo da cena o tempo todo, alternando rapidamente entre uma personagem e outra.
Por fim, o espetáculo é um grande show de humor. Muitas vezes, é essa arte que faz a diferença no dia a dia das pessoas. A quebra da rotina frenética e exaustiva pode acontecer com uma peça humorística, mas que as vezes é taxada como ‘comercial’ por uma parte da classe artística que se preocupa apenas em corpos expostos e textos melodramáticos complexos de ser interpretados.
É na comicidade que a sociedade se encontra, que viraliza e o frenesi humorístico se dá de tal maneira que esquecemos o consumismo exacerbado o qual somos expostos e impostos diariamente.
“Agora é que são elas” segue para o Rio de Janeiro a partir de 05 de abril. Além do elenco e diretor já mencionados, compõe a equipe técnica do espetáculo, Mina Quental na cenografia, Gilda Midani no figurino, Paulo César Medeiros na Iluminação, Lúcio Mauro Filho na música original, Diego Nardes no visagismo, Pino Gomes na fotografia, Vicka Suarez na identidade visual, Alice Porchat como assistente de produção, Hernane Cardoso como assistente de direçaõ e produção, Fabio Dobbs e Guilherme Scarpa na assessoria de imprensa. A peça foi produzida por Pad Rok Produções Culturais.