A Queda do Céu: o cinema como escudo da resistência Yanomami

O documentário guiado pelo testemunho do xamã e líder Yanomami Davi Kopenawa leva o espectador para dentro de um dos rituais mais importantes da comunidade de Watoriki: o Reahu. Mais do que um registro cultural, o filme se torna um grito de resistência, denunciando a invasão de garimpeiros, a disseminação de doenças trazidas por forasteiros e a ameaça constante contra a vida e o território Yanomami.

Com uma abordagem que mistura a estética do cinema indígena com o olhar do cinema nacional, a obra revela a cosmologia Yanomami e o papel dos espíritos xapiri como guardiões da floresta. O medo da comunidade, cercada por garimpeiros armados, contrasta com a beleza e a força espiritual presentes no ritual da festa do esquecimento, onde os mortos são honrados e a memória encontra descanso.

O filme transcende o registro etnográfico e se afirma como denúncia política. A narrativa conecta a realidade Yanomami a decisões recentes do poder público, como a aprovação do Projeto de Lei 2159/2021,agora denominado 15.090/25, que flexibiliza o licenciamento ambiental e enfraquece mecanismos de proteção a povos indígenas e quilombolas. Ao expor essa relação direta entre políticas ambientais e a sobrevivência dos territórios tradicionais, a obra escancara o impacto de escolhas governamentais sobre a vida de comunidades inteiras.

Mais do que retratar um ritual, o documentário amplifica a voz Yanomami para o mundo. É um convite a enxergar o céu que eles tentam segurar e, ao mesmo tempo, uma advertência sobre o chão que insistimos em destruir.

Foto de capa: Reprodução

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