A Longa Marcha: Uma grata (e tensa) surpresa

Reprodução

Você já se deparou com algum filme que, em um primeiro momento, não prometia nada, mas que, por algum motivo, consegue se conectar com você e revelar-se uma experiência cinematográfica muito agradável? Pois este foi exatamente o caso com A Longa Marcha, longa de suspense que adapta a obra homônima de Stephen King e que acabou se provando uma das experiências mais tensas e surpreendentes que tive nos cinemas até então, em 2025.

Ambientado em uma América distópica, o país é governado pelo Major (Mark Hamill), que institui um rígido regime militar após uma grande guerra e uma recessão econômica devastarem a nação. Um dos decretos desse governo é a Longa Marcha, uma competição na qual 50 jovens rapazes devem caminhar sem parar, até restar apenas um sobrevivente. Qualquer competidor que parar de andar é sumariamente executado.

O filme gira em torno desse desafio fatídico — ou seja, é basicamente composto por cenas de caminhada. À primeira vista, pode-se ter a impressão de que o filme seria monótono, e de fato, pela descrição, pode soar desinteressante. Entretanto, direção e roteiro conseguem articular de maneira inteligente a narrativa, tornando-a envolvente e tensa, graças ao que é o maior trunfo do longa: os personagens.

A Longa Marcha apresenta figuras extremamente carismáticas. O roteiro dá espaço para desenvolver os competidores, mostrar suas personalidades, os motivos pelos quais participam da competição e os sonhos que almejam ao vencê-la — tudo de forma tão genuína e humana que é impossível não se apegar a eles. Isso torna as sequências em que começam a ser friamente executados pelos militares ainda mais brutais e impactantes, já que passamos a conhecer e nos importar com aquelas pessoas.

Competidores | Reprodução

Cooper Hoffman e David Jonsson brilham como a dupla protagonista, exibindo uma química e uma amizade palpáveis. O elenco como um todo está de parabéns: os atores que interpretam os competidores conseguem transmitir muito bem tanto o clima de camaradagem entre os jovens quanto o medo, a exaustão física e o desgaste mental que crescem ao longo da caminhada.

Talvez tenha sido exatamente esse elemento, a química entre os personagens, que me fez gostar tanto do filme, pois me vi refletido em muitos daqueles momentos. Como escoteiro durante boa parte da vida, longas caminhadas em trilhas e acampamentos sempre fizeram parte da minha rotina, e as interações mostradas no filme, sejam conversas para se conhecer melhor, piadas e provocações, confidências íntimas sobre a vida ou até o simples gesto de ajudar um companheiro cansado a seguir em frente, soam autênticas em relação às experiências que vivi e ao comportamento real de jovens garotos. É um aspecto subjetivo, tenho plena noção disso, mas foi justamente o que me conectou ainda mais com a obra e tornou as cenas de morte ainda mais dolorosas.

Nos demais aspectos, o filme também se mostra bastante competente, sobretudo considerando seu orçamento relativamente modesto de US$ 20 milhões. Talvez o destaque técnico vá para a maquiagem, que retrata de maneira crua a exaustão e a brutalidade da Longa Marcha, evidenciando como ela corrói física e psicologicamente os competidores.

O ritmo é outro ponto positivo. Em nenhum momento dos 1h50min de duração senti tédio — muito pelo contrário. Permaneci curioso e ansioso para descobrir o que aconteceria na cena seguinte e tentando adivinhar quem seria eliminado da competição. O filme jamais se arrasta ou perde o interesse.

Major | Reprodução

Minha única decepção é o personagem do Major. Um dos principais elementos da campanha de marketing é a presença de Mark Hamill como antagonista, e, como grande fã de sua interpretação do Coringa, eu estava empolgado para vê-lo novamente em um papel de vilão. Porém, o personagem acaba recebendo pouco espaço na trama. Não que o trabalho de Hamill seja ruim, está longe disso, mas fica a sensação de um potencial não explorado.

Em meio a tantas adaptações cinematográficas medianas ou ruins das obras de Stephen King, A Longa Marcha realmente se destaca como uma das melhores. Com uma premissa simples de compreender, mas executada com eficiência, o filme entrega personagens carismáticos, ótimas atuações e uma construção de tensão muito bem conduzida. Se você ainda não tinha ouvido falar dele, A Longa Marcha é um suspense que merece sua atenção.

Assista ao trailer

About The Author