Lançado recentemente nos cinemas, A Hora do Mal se posiciona em um espaço intermediário entre o terror de apelo comercial e produções mais experimentais. Com um roteiro coeso e uma narrativa densamente construída, o longa conduz o espectador por uma atmosfera em que a presença do mal se faz constante. O elenco, de atuações consistentes, aliado a uma fotografia expressiva, reforça o impacto de um tipo de terror pouco explorado na produção cinematográfica contemporânea.
A trama parte do desaparecimento simultâneo de 17 crianças, todas às 2h17 da madrugada, pertencentes à mesma sala de aula, com exceção de Alex, o único não impactado pelo enigma. A professora Justine torna-se o principal alvo das suspeitas, apesar da ausência de provas concretas. Movida pela necessidade de respostas, ela une esforços com Archer, pai de uma das crianças, para conduzir a investigação que as autoridades não conseguiram solucionar.
O desenvolvimento do roteiro, estruturado em blocos que alternam pontos de vista dos personagens, revela gradualmente os acontecimentos. Embora tal recurso não seja inédito em Hollywood, mostra-se uma escolha inusitada para este tipo de narrativa, conferindo-lhe um caráter arriscado. Zach Cregger, responsável pelo texto e pela direção, opta por um caminho que tende a provocar reações extremas: a obra pode ser recebida com entusiasmo ou rejeição, sem espaço para indiferença.
Essa ousadia se destaca no atual cenário do gênero, frequentemente marcado por produções formulaicas, com desfechos previsíveis e estética limitada a enquadramentos convencionais. Em A Hora do Mal, os movimentos de câmera exploram possibilidades que o terror costuma evitar, resultando em momentos de tensão visual e narrativa.
Julia Garner, no papel de Justine, confirma a evolução de sua carreira, especialmente após sua participação no terror O Lobisomem (2025). Amy Madigan, como Tia Gladys, entrega uma composição excêntrica e perturbadora, evocando referências claras, mas que se integram organicamente à proposta do filme.
A direção de Cregger reforça a importância de tratar o terror com liberdade criativa, priorizando escolhas estéticas e narrativas singulares em detrimento da previsibilidade comercial. Sem se apoiar na necessidade de “reinventar” o gênero, o cineasta oferece uma leitura própria e segura de sua história, indiferente a possíveis riscos de crítica ou bilheteria.
No conjunto, A Hora do Mal emerge como um título memorável do gênero, articulando tensão e reflexão. Mesmo ao usar o sobrenatural, a obra sustenta a ideia de que a verdadeira ameaça reside na natureza humana e que, muitas vezes, o mal mais assustador é também o mais real.
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Foto de capa: Divulgação