Destaque na Flip, cearense Maurício Mendes lança “O homem não foi feito para ser feliz”, romance que disseca contradições da ascensão social

A estreia literária de Maurício Mendes, médico nuclear cearense, propõe uma narrativa centrada nas tensões emocionais e sociais de um protagonista pardo em processo de ascensão social, marcado por feridas que resistem ao tempo, aos títulos e ao prestígio. No romance O homem não foi feito para ser feliz (Mondru, 184 páginas), o autor narra, em primeira pessoa, a trajetória de Germano, da formação médica ao exercício da profissão, passando por relações afetivas mal resolvidas, fracassos sentimentais e um constante sentimento de inadequação.

O livro será lançado durante a Flip 2025, no dia 2 de agosto, às 17h, no estande da editora Mondru, com eventos também previstos para Fortaleza, cidade natal do autor. A obra integra ainda os cronogramas dos clubes de leitura Leituras Paralelas e Clube de Leitura do BNB, ambos sediados em Fortaleza, com atividades previstas para maio de 2026. O romance conta com prefácio assinado por Santiago Nazarian e textos de quarta capa de Evelyn Blaut, crítica literária e diretora do Centro Cultural Astrolabio, e da escritora Natércia Pontes.

A estrutura da obra se apresenta de forma fragmentada e não linear, alternando entre o passado e o presente do personagem. “Optei por uma estrutura fragmentada e não linear, entrelaçando flashbacks e conduzindo a narrativa por meio de um narrador-personagem falho e contraditório. Ele se expressa através de depoimentos, diálogos e metáforas, explorando elisões, fluxo de consciência e passagens oníricas”, explica o autor. Segundo ele, o estilo adotado é contemporâneo, irônico, reflexivo, ácido e, ao mesmo tempo, sensível.

Ao construir um personagem que não busca idealizações, Maurício convida o leitor a encarar contradições internas e sociais. “Sim, trata-se de um romance com forte crítica social, mas não se reduz a isso. Sim, flerta com o sentido e a utilidade da existência, mas vai além. Sim, expõe as entranhas da fragilidade e da misoginia do homem moderno, mas não se resume a essa questão. E claro, é também, uma história de amor, mas nunca apenas isso”, afirma.

A narrativa aborda temas como solidão, racismo, inadequação, masculinidade, desumanização, mercantilização da saúde, misoginia e a falência das relações afetivas. Maurício aponta que essas escolhas não foram premeditadas. “Não acho que a escolha dos temas de um escritor seja um processo consciente e desconfio dos escritores que justificam suas preferências como se fossem decisões deliberadas. O que acontece é que essas escolhas surgem do inconsciente e o que o escritor faz é procurar, na própria trajetória, uma explicação lógica que dê sentido ao que escreve — uma justificativa que pareça coerente. Mas a vida, por si só, não faz sentido. E essa é justamente a grande missão da literatura: dar sentido onde não há nenhum. No meu caso, escrevo sobre temas que me são próximos, como a questão racial e a mercantilização da saúde, ou outros, tão distantes de mim que me causam assombro e fascínio.”

O impulso para concluir o livro surgiu durante a pandemia, quando o autor precisou reorganizar o espaço da clínica onde trabalha. “Eu escrevo projetos de romance desde muito jovem. Sempre foi o que eu queria fazer e nunca escondi esse desejo — de me tornar um ficcionista — das pessoas próximas a mim. Eu escrevia à mão e guardava tudo em caixas junto a uma estante apinhada de livros. Na época da pandemia, precisei remover essas caixas que estavam na clínica onde trabalho e me deparei com vários projetos de romances inacabados. Tive medo que tudo terminasse ali e essas histórias nunca pudessem ser lidas. Foi o evento catalisador para, enfim, dedicar-me a concluir meus projetos literários: o medo do esquecimento.” O processo de escrita levou três anos até que fosse entregue à editora. “Na verdade, levei três anos para entregá-lo à editora. Ele ainda continua vivo e em movimento contínuo na minha cabeça.”

Apesar do impacto da escrita, Maurício rejeita a ideia de transformação pessoal grandiosa. “Quanto a essa pergunta, não vejo muito sentido porque tudo o que fazemos e o que não fazemos nos afeta, tudo nos transforma, escrever ou não escrever nos transforma.”

Nascido em Fortaleza, Maurício Mendes viveu a infância entre o interior do Ceará e o Maranhão. Residiu em São Luís dos 10 aos 23 anos, onde se formou em Medicina pela Universidade Federal do Maranhão (UFMA). Posteriormente, passou por Belo Horizonte, onde realizou residência médica, e atualmente vive na capital cearense. É especialista em Medicina Nuclear pelo Hospital Felício Rocho e possui fellowship em PET-CT pela Universidade de Zurique.

Além de médico, é também divulgador cultural, conduz um clube de leitura presencial e administra uma página de incentivo à literatura no Instagram. “O trabalho do escritor é, antes de tudo, leitura — sem repertório e sem o assombro que o acompanha, não há como começar.” Entre suas influências estão nomes como Cortázar, Philip Roth, Paul Auster, Michel Houellebecq, J. M. Coetzee, e poetas como Auden, Yeats, T. S. Eliot, Anna Akhmatova, Louise Glück, Sophia de Mello e Nauro Machado.

Entre os temas que pretende desenvolver em sua trajetória estão questões como a solidão do negro escolarizado que ascende socialmente, a desconstrução do homem diante do novo protagonismo feminino, a desumanização dos serviços de saúde e a guinada conservadora da classe médica brasileira.

“O homem não foi feito para ser feliz” está disponível no site da editora Mondru

Via Assessoria de imprensa

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