A morte, com todos os seus tabus sociais, é o ponto de partida do romance “Entre a vida e a morte, há vários documentos”, obra de estreia do escritor mineiro Michael Maia, publicada pelo selo Paraquedas. Em um cenário alternativo, o livro imagina um país onde uma substância conhecida como “droga da morte” é legalizada e controlada pelo Estado. O composto, ao ser administrado, proporciona ao usuário uma experiência intensa e emocional instantes antes da morte, incluindo visões de entes queridos falecidos e até mesmo da figura divina.
Após um episódio conhecido como “Grande Surto”, em que milhares optam por morrer utilizando a droga, o governo impõe regulamentações que levantam questionamentos sobre desigualdade e controle social. Quem tem acesso à substância? Quem é incentivado a utilizá-la? E por que os centros de atendimento não existem em áreas mais ricas?
No centro da narrativa estão Luzia e Tânia, um casal que, ao receber um diagnóstico de câncer terminal, decide encerrar o tratamento e solicitar o uso da droga. A escolha reverbera em suas famílias, especialmente em Antônio, irmão de Luzia, que trabalha na empresa estatal responsável por regular os pedidos de morte assistida. A trama conduz o leitor por reflexões profundas sobre os laços familiares e as consequências sociais das decisões individuais diante do fim da vida.
Michael Maia conta que a ideia para o livro surgiu durante uma viagem, ao imaginar duas pessoas vivendo experiências únicas antes de morrer. O processo criativo, no entanto, ganhou corpo após um evento pessoal marcante: a perda de uma grande amiga em um acidente de carro. “Durante o processo de luto pela minha amiga eu fiquei um pouco perdido, abandonei a escrita e fui vivendo a vida no automático. Acho que é um sentimento mútuo entre várias pessoas que passam pelo luto”, relata o autor.
O desenvolvimento da obra envolveu pesquisa e planejamento. Maia criou fichas detalhadas de personagens e estruturou a narrativa com base em estudos sobre sociologia e morte. Entre as referências que o inspiraram estão “O suicídio”, de Émile Durkheim, e “As Intermitências da Morte”, de José Saramago. Ele destaca o impacto da escrita de Saramago e sua capacidade de desenvolver tramas a partir de hipóteses simples. “O Saramago desenvolvia uma escrita incrível com apenas um ‘e se?’, e isso me inspirou muito”, afirma.
Longe de se limitar ao gênero distópico, o romance de Michael Maia aborda de forma sensível e crítica temas como o luto, a finitude e as desigualdades sociais. A experiência da escrita também serviu como uma forma de superação pessoal. “Durante o processo de escrita, passando pelo processo de luto, percebi que certos momentos eu virava o Antônio, personagem do livro. Terminei fazendo do projeto como um processo de cura”, conta.
Com planos para o futuro, Michael pretende continuar explorando novas linguagens e temáticas na literatura. Sua próxima ideia envolve um livro de terror-comédia com personagens LGBTs, inspirado em vivências e referências culturais dos anos 2010 a 2015. O projeto ainda está em fase inicial, sendo construído a partir de experimentações e pesquisas.
Via Assessoria de Imprensa
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