Asa branca é só mais uma cinebiografia

O filme começa de forma impactante, com uma cena inicial bem construída que utiliza um eficiente jogo de câmeras para retratar o acidente que aposenta Asa Branca, interpretado por Felipe Simas, justamente no momento em que o então futuro locutor dava seus primeiros passos na carreira.

Em muitos filmes, a cena de abertura é essencial para estabelecer o tom da narrativa. Em Asa Branca, no entanto, toda a carga emocional desse início se dissipa rapidamente, dando lugar a uma cinebiografia que segue uma estrutura bastante conhecida: a ascensão de uma lenda, seus relacionamentos pessoais, o problema com o álcool, a queda e, por fim, o renascimento. O filme percorre esses momentos de forma apressada, sem se aprofundar de fato em nenhum aspecto da vida do personagem, limitando-se a enumerar seus episódios mais marcantes.

Com direção de Guga Sander e roteiro de Celso Duvecchi e Fernando Honesko, o longa acompanha a trajetória de Waldemar Ruy dos Santos, que começa trabalhando na limpeza de estábulos, depois de um tempo arrisca-se ao montar em um touro. Depois de um tempo como peão sofre um grave acidente e após sua recuperação, ele aos poucos se transforma em um dos maiores locutores de rodeio do país, revolucionando o espetáculo das montarias. É justamente nesse ponto que surge um dos principais problemas do filme.

Asa Branca foi responsável por transformar os rodeios em eventos pirotécnicos, hiperbólicos e carregados de espetáculo. No entanto, o longa não consegue traduzir essa grandiosidade visualmente para o espectador. Muitos desses momentos são mais contados pelos personagens do que efetivamente apresentados em cena, o que enfraquece o impacto emocional. Provavelmente por limitações orçamentárias, as arenas de rodeio que deveriam representar o auge de sua trajetória acabam parecendo dispersas e pequenas, sem transmitir a dimensão que o personagem teve na vida real.

Felipe Simas também enfrenta dificuldades na composição do protagonista. Sua atuação, em diversos momentos, se aproxima do caricato, apesar de apresentar lampejos pontuais de brilho. A narrativa irregular contribui para esse problema ao prejudicar a construção dos relacionamentos, que soam inorgânicos, especialmente a relação com sua esposa Sandra (Lara Tremouroux), marcada por interações pouco cativantes e escasso desenvolvimento emocional. Em contrapartida, quem se destaca positivamente é Camila Brandão, que interpreta Jiboia, encontrando na personagem uma autenticidade que falta a outros núcleos do filme.

Não se trata de um filme ruim, mas de uma cinebiografia que opta pelo caminho mais seguro e previsível. Ao não conseguir traduzir em linguagem cinematográfica a grandiosidade e a personalidade de Asa Branca, o longa acaba deixando sua figura maior do que o próprio filme. Falta justamente aquilo que o personagem ajudou a criar nos rodeios: espetáculo, impacto e identidade.

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