O filme de Five Nights At Freddy’s é um caso curioso e até complexo. A franquia de jogos de terror indie, iniciada em 2014, teve uma ascensão meteórica graças à sua trama macabra, repleta de segredos e lacunas que fãs tentam preencher até hoje para desvendar a verdadeira história. Já em 2015 foi anunciada uma adaptação cinematográfica — produção que só veria a luz do dia em 2023. A troca de estúdio, da Warner para a Blumhouse, somada às diversas versões de roteiro escritas e descartadas, foi apenas uma pequena amostra do desenvolvimento conturbado do longa, algo que fica evidente no produto final: uma verdadeira colcha de retalhos, resultando em uma experiência que é, no máximo, medíocre.
Contudo, com o grande sucesso financeiro e o feedback de fãs e crítica do primeiro filme, Scott Cawthon, criador da franquia, e a equipe de produção levaram tudo isso em conta para a sequência. E a verdade é que Five Nights At Freddy’s 2, ainda que esteja longe de ser uma experiência perfeita, representa um avanço claro em relação ao seu antecessor.
Um ano após os eventos do primeiro longa, Mike, Abby e Vanessa tentam levar uma vida normal depois do trauma vivido na pizzaria. Entretanto, segredos antigos sobre o passado da Freddy’s voltam para assombrar os protagonistas.
Retomando a ideia de que o primeiro filme é uma colcha de retalhos, isso se evidencia sobretudo no roteiro, que carecia de foco, acumulava tramas e personagens demais e desenvolvia nenhum deles de maneira satisfatória. Nesse sentido, o maior acerto de FNAF 2 é justamente apresentar um roteiro — e uma experiência geral — muito mais coeso.
A narrativa é mais concentrada, os personagens têm arcos de desenvolvimento claros e o roteiro articula de maneira competente as relações entre o trio principal. O mesmo vale para as atuações, que funcionam melhor dentro da dinâmica estabelecida. Outro ponto positivo é a forma como o segundo filme incorpora referências aos jogos: mais orgânicas, discretas e melhor contextualizadas, ao contrário das inserções gratuitas e desconexas do primeiro longa, que às vezes soavam puro fan service.
O roteiro, porém, ainda tropeça nos personagens secundários, que permanecem unidimensionais, e em seu terceiro ato. Embora este apresente ideias conceitualmente interessantes — e até homenageie a sensação de estar jogando —, acaba sendo a parte mais fraca da produção.
Outro ponto que pode não incomodar a todos, mas prejudicou particularmente a minha experiência, é a abordagem de certos personagens da franquia, com a Marionete sendo o exemplo principal. A história de FNAF sempre foi uma grande bagunça, e por isso considero inteligente quando o longa faz adaptações para tornar o filme acessível a públicos diversos. No entanto, a maneira como a Marionete e outros personagens foram alterados e retratados aqui não me agradou.
A evolução também é perceptível na direção. Emma Tammi retorna ao cargo e, desta vez, consegue articular sequências mais criativas e visualmente interessantes, além de incluir mais momentos de terror — corrigindo um dos principais defeitos do primeiro filme e um dos piores pecados possíveis em uma obra do gênero: ser entediante.
Isso não significa que o filme apresente cenas realmente assustadoras, mas elas aparecem em maior quantidade e, considerando que a produção mira o público jovem, cumprem o que propõem.
Se houve um consenso de elogios no primeiro filme, ele foi o valor de produção, especialmente na recriação dos animatrônicos. No segundo longa, o que já era bom fica ainda melhor. Os cenários são maiores e mais detalhados, as cenas contam com mais figurantes, tornando os ambientes mais vivos, e os novos animatrônicos — como os Toys ou os Withereds — são muito bem construídos e fiéis aos jogos. O esmero na criação dos personagens é evidente.
Se você gostou do primeiro Five Nights At Freddy’s, a sequência deve ser uma experiência ainda mais divertida e repleta de referências. Agora, se o primeiro não funcionou para você, dificilmente FNAF 2 irá conquistar seu interesse — embora seja importante reconhecer que há, sim, uma evolução clara. Fica aqui meu voto de confiança de que, caso um terceiro filme venha a acontecer — e os ganchos deixados sugerem isso — Scott Cawthon, Emma Tammi e o restante da equipe possam finalmente entregar uma experiência de terror realmente marcante.
