Reprodução HBO
A série ‘Pacificador’ é, provavelmente, o sucesso recente mais inesperado e surpreendente da DC. Especialistas e público chegaram a demonstrar descontentamento ao saber que esse personagem secundário — e antagonista de ‘O Esquadrão Suicida’ (2021) — ganharia uma série derivada. Contudo, não esperavam que James Gunn entregaria, em oito episódios, uma produção com roteiro bem amarrado, que combina humor escrachado, boa trilha sonora, drama, um elenco de personagens carismáticos e, principalmente, mostra todo o talento de John Cena como ator — ele brilha no papel.
Para muitos, ‘Pacificador’ está entre os melhores trabalhos, ou até mesmo é o auge da carreira de James Gunn — opinião da qual compartilho. Portanto, as expectativas estavam altíssimas para a segunda temporada, ainda mais considerando que ela faz parte do novo universo cinematográfico da DC e as declarações do próprio Gunn de que esta seria um dos pontos altos de sua carreira.
Infelizmente, embora ainda tenha bons momentos que lembram o motivo pelo qual a série é tão especial, o segundo ano de ‘Pacificador’ representa uma queda clara — e muito decepcionante — em relação à temporada anterior.
Sentindo-se frustrado com a própria vida, Christopher Smith/Pacificador (John Cena) acaba descobrindo um portal para uma dimensão paralela onde tem a vida perfeita, ficando dividido entre permanecer em sua realidade com os amigos ou assumir uma nova vida no outro mundo.

Sendo direto: sim, a segunda temporada foi uma experiência bastante decepcionante de acompanhar ao longo das semanas. Ainda assim, não se pode dizer que seja desprovida de qualidades. Assim como na primeira temporada, o grande trunfo da série é John Cena, que novamente entrega um protagonista carismático e convincente.
O que mais me surpreendeu foi como James Gunn consegue extrair o melhor de Cena, que oferece uma carga dramática palpável e emocionante — especialmente nas cenas que exploram os relacionamentos com o pai, o irmão e Harcourt.
O mesmo vale para Jennifer Holland como a agente Harcourt, que transmite com precisão o turbilhão de emoções vivido pela personagem. Ela também merece destaque pela atuação nas versões paralelas de Harcourt, já que interpreta tanto a original quanto a da dimensão alternativa, conseguindo diferenciá-las de forma sutil e eficaz.
A premissa desta temporada é, de fato, muito interessante e, francamente, uma sacada genial de Gunn. Em vez de recorrer ao multiverso de forma batida, com uma crise cósmica de grandes proporções, ‘Pacificador’ utiliza o conceito de terras paralelas para desenvolver um conflito muito mais íntimo e pessoal.
Frustrado após tantas decepções, Chris encontra um mundo onde não apenas é um super-herói famoso e amado por todos, como também seu pai e irmão estão vivos — podendo, enfim, ter uma família novamente — além de manter um relacionamento com Harcourt. É o tipo de questionamento que ecoa durante a temporada: se você estivesse diante da mesma situação, em uma realidade “perfeita”, onde outro você “deu certo”, não gostaria de viver essa vida?
Entretanto, quando se fala na execução dessa premissa, especialmente após descobrirmos que essa dimensão não é tão perfeita quanto parece, tudo soa como potencial desperdiçado e que merecia mais tempo de tela para ser explorada. E pior: toda a trama da terra paralela é praticamente esquecida no episódio final, algo que abordarei mais à frente.

E é aqui que surge o maior problema da segunda temporada: o roteiro. Se na primeira, Gunn consegue articular uma história equilibrada, com humor, drama, arcos bem definidos e uma trama central coesa, o mesmo não se repete aqui. Personagens como Adebayo, Economos e Vigilante, tão essenciais anteriormente, são completamente escanteados, sem qualquer desenvolvimento relevante.
O caso de Vigilante é particularmente frustrante. Responsável por algumas das passagens mais hilárias da temporada anterior, ele se limita, agora, a repetir a mesma piada sem graça sobre curiosidades de animais. Aliás, o humor da série está em seu ponto mais fraco: as piadas, em vez de provocar risadas, causam constrangimento e vergonha alheia.
Além disso, o roteiro desvia o foco da trama principal para dar destaque ao núcleo de agentes da ARGUS e à subtrama do caçador de águias, linhas narrativas desinteressantes que apenas reduzem o tempo de tela dos personagens mais cativantes e nada acrescentam à história.
A impressão é de que James Gunn estava tão envolvido com seus múltiplos projetos dentro da DC Studios que não conseguiu se dedicar integralmente à série. Fica evidente que esta segunda temporada carece de uma revisão geral, o episódio final sendo prova disso.
Apesar de achar a temporada mais fraca, gostei bastante dos episódios 6 e 7 e estava genuinamente curioso para saber como seria o oitavo e último episódio, ainda mais após as declarações de Gunn sobre a conexão com a sequência de Superman (2025) e a possibilidade de esta ser a última temporada.
O que foi entregue, porém, é uma hora de nada. Fios narrativos são esquecidos, piadas são constrangedoras e a conclusão é extremamente insatisfatória, especialmente quando se compara ao final da primeira temporada, que soube equilibrar ação, comédia, drama e amarrar todas as linhas narrativas.
Fazia tempo que eu não via um encerramento de temporada ou de série tão amargo. Um desfecho que me fez repensar toda a jornada das últimas oito semanas de tão fraco e, sinceramente, ruim que foi esse oitavo episódio.
Como mencionado no início desta crítica, a segunda temporada de Pacificador tem, sim, qualidades. Entretanto, para cada acerto há ao menos três erros que rebaixam a produção. Somando-se a isso um “final” frustrante, afirmo sem medo: a segunda temporada é o trabalho mais fraco de James Gunn dentro de seu portfólio de produções de super-heróis.
Como diria Rick Flag: “Pacificador… que piada…”
