O filme O Último Episódio narra a história de Erick, um garoto de 13 anos que, na tentativa de impressionar a menina por quem está apaixonado, afirma possuir em casa uma fita com o lendário episódio final do desenho Caverna do Dragão. A direção é assinada por Maurílio Martins, que incorpora à trama elementos de suas próprias memórias de infância. “Tem muito de mim ali, espalhado nos personagens, nas fotos, nas histórias”, revela o cineasta.
Ambientado na década de 1990, o longa se passa no bairro Laguna, na periferia de Contagem (MG), e retrata com sensibilidade a nostalgia de uma época marcada por laços comunitários fortes, brincadeiras ao ar livre e a convivência intensa entre vizinhos. Crescer na periferia significava viver rodeado de amigos, dividir espaço nas calçadas e nas salas das casas, onde a televisão era ponto de encontro.
O filme também propõe uma reflexão sobre o impacto das mudanças tecnológicas no modo como as novas gerações consomem entretenimento. Antes, assistir a um programa exigia espera, horário marcado e, muitas vezes, o ritual de reunir toda a família na sala. Alugar filmes em locadoras fazia parte do cotidiano e carregava um charme próprio.
Em contraste com aquela realidade, a infância contemporânea, imersa em telas e dispositivos digitais, apresenta novas formas de interação e diversão, mas também desafios importantes. A chamada “cyber-infância” substituiu o contato físico por conexões virtuais, o que levanta questões sobre sociabilidade, saúde mental e o empobrecimento de experiências sensoriais essenciais ao desenvolvimento infantil.

Maurílio Martins constrói, com delicadeza, uma ponte entre passado e presente, convidando o espectador a revisitar o tempo em que a ausência de respostas imediatas gerava expectativa e encantamento. O Último Episódio não é apenas uma viagem nostálgica, mas um convite à reflexão sobre o que foi deixado para trás e o que pode ser resgatado em tempos de excesso e aceleração.
Além da narrativa envolvente, a produção se destaca pela estética que valoriza os detalhes da época, desde figurinos até objetos de cena, e pelo elenco infanto juvenil que transmite autenticidade e emoção. O resultado é um retrato sensível e necessário da infância brasileira de uma geração que aprendeu a sonhar antes de poder clicar.
