Por Maduh Cavalli
Tom na Fazenda é uma obra teatral de potência arrebatadora e poesia cênica, que mergulha em um tema tão delicado, urgente e complexo, a homofobia e suas raízes na violência, no silenciamento e no desejo proibido.
O elenco (Armando Babaioff, Denise Del Vecchio, Iano Salomão e Camila Nhary) se entrega de corpo, alma e presença. As atuações são de uma construção tão sólida e verdadeira que nos arrastam diretamente para dentro dos acontecimentos diante de nós. As movimentações constantes no espaço mantêm a tensão viva, como se estivéssemos sempre à beira de um desfecho explosivo. Há, ao mesmo tempo, uma sutileza em determinadas cenas e falas que nos atravessa com enorme impacto emocional.
A proposta do dramaturgo (Michel Marc Bouchard) é evidente, a homofobia surge da incapacidade de acolher o diferente e, principalmente, do conflito em reconhecer o desejo pelo que é socialmente rotulado como proibido.
É justamente no silêncio, no que não se pode dizer, que a obra ganha força, revelando como muitas pessoas homossexuais aprendem a esconder e disfarçar seus sentimentos antes mesmo de terem a chance de vivê-los plenamente.
A iluminação tem escolhas certeiras, que nos transporta para a fazenda, ora ampliando a atmosfera opressiva, ora criando imagens de impacto que ficam gravadas na memória do espectador. E a sonoplastia vem acompanhando tudo de uma maneira brilhante nos ajudando a emergir na cena e criando impacto. O palco aberto, visceral, já montado pelos próprios atores antes do início oficial, mas com o público presente, revela-se um recurso genial. A estrutura junto com a lama funciona como camadas que se sobrepõem, multiplicando os sentidos da narrativa e nos lembrando de que também fazemos parte da engrenagem daquela história.
A direção (Rodrigo Portella) é precisa, conduzindo a trama com ritmo, tensão e clareza, sem jamais perder o fio da poesia. O resultado é uma encenação que merece todos os aplausos que tem recebido.
Não à toa, Tom na Fazenda conquistou plateias no mundo inteiro, trata-se de uma peça necessária, que fala de feridas abertas, mas também da coragem de enfrentá-las. É lindo perceber a força de um texto que resiste ao tempo e segue tocando pessoas no mundo todo, mas também é triste constatar que ainda precisamos dele para denunciar violências que insistem em permanecer.
Foto de capa: Gaby Strapasson (@gabystrapasson_)
