“A Sogra Perfeita 2”, sequência do filme de 2021, chega aos cinemas trazendo de volta a carismática e destemida Neide, vivida por Cacau Protásio. Sob a direção de Cris D’Amato e Bianca Paranhos, o longa mantém a fórmula de comédia popular que agradou no primeiro filme, mas peca pela falta de evolução criativa e pelo excesso de caricaturas. A produção investe no protagonismo feminino tanto em frente quanto atrás das câmeras, mas falha em entregar um humor refinado e surpresas narrativas.
O filme acompanha Neide em um novo capítulo de sua vida: independente e bem-sucedida como cabeleireira, ela finalmente curte a liberdade após os filhos deixarem sua casa. Sua paz é abalada quando o namorado português, Oliveira (Marcelo Laham), faz um pedido de casamento inesperado. Apesar de Neide recusar, o boato se espalha pela vizinhança de Vila Cleide, e a sogra portuguesa (Fafy Siqueira) chega com as malas prontas para a festa. Paralelamente, Neide enfrenta uma desavença com sua melhor amiga, Sheila (Evelyn Castro), durante uma competição de penteados, o que a deixa sozinha para resolver o mal-entendido do casamento e administrar seu salão.
O filme é um exemplo de produção com significativa participação feminina. Dirigido por Cris D’Amato e Bianca Paranhos, com roteiro de Flavia Guimarães e Bia Crespo, e um elenco majoritariamente composto por mulheres, a produção traz perspectivas femininas para temas como independência, amizade e auto aceitação. O personagem da sogra, Dona Oliveira, foge do arquétipo clássico da vilã e apresenta uma mulher que redescobre seus desejos e se apoia em outras mulheres.
Cacau Protásio carrega o filme nas costas com seu timing cômico e carisma. Fafy Siqueira, como a sogra, é um respiro fresco de comicidade inteligente, roubando a cena em vários momentos. A dinâmica entre as personagens, quando focada no apoio mútuo, é um dos aspectos mais bem-sucedidos da narrativa.
O humor datado e repetitivo é o calcanhar de aquiles do filme. A comédia se apoia em exageros caricatos, bordões que já foram moda e piadas repetidas até a exaustão. O roteiro insiste em retratar o humor como uma saraivada de tiradas, priorizando a quantidade em detrimento da qualidade. Piadas com palavras como “pão” e “cacetinho” perdem completamente a graça após a primeira ocorrência, mas são repetidas incessantemente, subestimando a inteligência do público.
A trama segue uma fórmula batida de comédia romântica: a protagonista forte mas sensível comete um erro, afasta as pessoas queridas, enfrenta consequências e, no final, aprende a lição e reconquista tudo. O espectador sabe exatamente onde a história vai chegar desde os primeiros minutos, e nenhum dos conflitos apresenta um desfecho surpreendente. A competição de penteados e a reconciliação com a amiga Sheila são desenvolvidas de maneira superficial e previsível.
Personagens como Sheila, com seu hábito de misturar português com inglês de forma equivocada, soam como uma tentativa desesperada de ser engraçada, mas acabam se tornando vergonhosamente datadas. Esse tipo de humor, que beira o cringe, faz com que o filme corra o sério risco de envelhecer mal rapidamente, parecendo mais uma relíquia de 2013 do que uma produção de 2025.
“A Sogra Perfeita 2” é uma comédia que até diverte em alguns momentos, graças principalmente ao talento do elenco principal e à química entre Cacau Protásio e Fafy Siqueira. No entanto, o longa é profundamente prejudicado por um humor insistente e obsoleto, uma narrativa sem surpresas e personagens que beiram o irritante devido aos exageros.
É o tipo de filme que pode servir para uma sessão de descontração sem grandes demandas intelectuais, mas que será esquecido logo após a saída do cinema. Para quem busca uma comédia nacional que equilibre risos com uma história mais original e personagens bem construídos, esta sequência pode decepcionar. A produção acerta ao colocar mulheres no centro da narrativa, mas erra ao não oferecer a elas um roteiro à altura de seu potencial.
