O filme Juntos se propõe a explorar o mito platônico das almas gêmeas, presente em O Banquete, onde a divisão do ser andrógino original gera uma busca eterna por completude. A premissa é fascinante e rica em simbolismo, mas a execução oscila entre o genial e o frustrantemente obscuro.
O casal Millie (Alison Brie) e Tim (Dave Franco) vive um relacionamento marcado por tensão e dor, tanto emocional quanto física, enquanto enfrentam um fenômeno sobrenatural no corredor de sua nova casa. A dinâmica entre os dois é intensa, mas muitas vezes mergulha em uma toxicidade que, embora perturbadora, nem sempre parece servir a um propósito narrativo claro. O filme sugere uma metáfora sobre relacionamentos abusivos e a ilusão da alma gêmea, mas as metades não se encaixam de forma satisfatória.
A atmosfera é indiscutivelmente bem construída: a trilha sonora e os efeitos visuais contribuem para cenas grotescas e assustadoras, com um equilíbrio bem dosado de humor negro que alivia – mas também perturba ainda mais. No entanto, o excesso de mistérios não resolvidos e um final ambíguo deixam a sensação de que o filme depende demais de uma possível continuação, algo que pode frustrar quem busca respostas.

Comparações com A Substância (2024) são inevitáveis, tanto pelo tema corporal perturbador quanto pela estética crua. O elenco, de fato, entrega performances convincentes, especialmente Brie e Franco, que mergulham de cabeça no desconforto de seus personagens.
No fim, Juntos é uma experiência visceral e artisticamente ousada, mas peca por não fechar seu próprio ciclo. Se o diretor Michael Shanks pretende uma continuação, que ela traga mais clareza – porque, por enquanto, o filme parece tão dividido quanto as almas gêmeas de Platão.
