Drácula: Entre o amor e a maldição

O longa-metragem Drácula: Uma História de Amor Eterno, dirigido por Luc Besson, opta por uma abordagem distinta da tradicional figura do vampiro consagrada no cinema de horror. Ao invés de investir no terror gótico ou na estética sombria comumente associada ao personagem, Besson estrutura sua narrativa como um romance dramático com elementos de fantasia, centrando-se na dimensão emocional e trágica do Conde Drácula.

Inspirado livremente no clássico Drácula de Bram Stoker (1992), de Francis Ford Coppola, o filme retoma a origem mitológica do personagem no século XV, na Transilvânia. O príncipe Vladimir, interpretado por Caleb Landry Jones, renuncia à fé após a morte de sua esposa Elisabeta (Zoey Bleu), sendo então condenado à imortalidade como castigo por sua heresia. Séculos depois, durante a Belle Époque em Paris, Drácula acredita reconhecer sua amada reencarnada em Mina, uma jovem que guarda impressionante semelhança com Elisabeta.

A construção narrativa opta por um desenvolvimento gradativo do elemento fantástico, retardando a explicitação da maldição que recai sobre o protagonista. Essa escolha permite ao filme manter-se, em grande parte, dentro do gênero do drama romântico, com toques de lirismo e certa dose de humor sutil.

A direção de arte e a fotografia recriam com esmero a atmosfera da Paris do final do século XIX, contribuindo para a ambientação poética da trama. No entanto, o uso de imagens sacras que vertem sangue revela-se um recurso visual recorrente e pouco inovador dentro do imaginário cinematográfico sobre o vampirismo, podendo ser interpretado como uma solução simbólica de apelo excessivo.

Caleb Landry Jones entrega uma atuação competente, explorando a vulnerabilidade e a humanidade do protagonista com sobriedade. Seu Drácula afasta-se da representação demoníaca tradicional, sendo retratado como uma figura marcada por perdas e dilemas existenciais. Christopher Waltz, no papel do padre Priest, também se destaca, oferecendo uma performance contida e distinta de seus trabalhos anteriores, como em 007 – Operação Skyfall, demonstrando versatilidade cênica.

Embora a narrativa siga, em sua estrutura, os marcos do romance trágico, o desfecho reserva um elemento inusitado: a intervenção de gárgulas animadas, que conduz a história a um encerramento simbólico e menos trágico, evocando um tom quase fábula. Essa solução pode surpreender, ainda que dialogue com a proposta estética mais leve e fantástica do filme.

Em síntese, Drácula: Uma História de Amor Eterno é uma releitura estilizada da lenda do vampiro, que prioriza o aspecto emocional e visual da narrativa. Embora careça de ineditismo em alguns recursos simbólicos, apresenta uma direção sólida, atuações equilibradas e uma proposta distinta em relação às versões anteriores do mito.

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